segunda-feira, 20 de julho de 2015

Contribuições do Professor Vanderley - Lino de Macedo

“Competir e cooperar fazem parte do mesmo jogo” (Lino de Macedo)

Revista Nova Escola – Ano 30 – Nº280 – Março/2015


“Há de se aprender a cooperar no processo e a competir pelo resultado. Cooperação e competição são, assim, como lâminas de uma mesma tesoura. Devem trabalhar juntas, ainda que em posições contrárias, para que se cumpra um objetivo.” (Lino de Macedo)

Lino de Macedo. Foto: Paulo Vitale
Lino de Macedo
Professor aposentado
do Instituto de Psicologia
da Universidade de
São Paulo (USP)

No contexto da escola e da sala de aula, competir e cooperar ocupam geralmente posições opostas. Somos a favor do cooperar, reclamamos se alunos, colegas e gestores não praticam essa boa forma de agir. Ao mesmo tempo, somos contra o competir, nos preocupamos com ele, sobretudo no contexto das práticas e da convivência escolar. Parece errado ou perigoso competir.

Proponho pensarmos a competição e a cooperação como faces da mesma moeda, já que não se realiza uma sem a outra. Competir implica fazer escolhas, saber ganhar ou perder, aceitar limites. Numa situação de jogo de regras, por exemplo, competir e cooperar mantêm relações de reciprocidade ou de respeito mútuo. O objetivo de quem joga é ganhar do adversário. Isso requer aprender a fazer boas escolhas, antecipar e corrigir erros, tornar-se mais cuidadoso e atento. Ainda que se prefira a vitória, ganhar e perder em um jogo têm a mesma valência. Quem ganha quer um novo desafio para conferir se continua vencedor. Quem perde quer uma nova chance.

Ganhar ou perder é experimentar um limite. E ele exige aceitar emocionalmente o que já se sabia no começo: vitória e derrota fazem parte do jogo. Trata-se, então, de se dedicar mais, estudar e exercitar procedimentos, conhecer melhor o adversário e a si mesmo. Aprender a jogar é aprender a competir, a fazer escolhas. É fundamental escolher com sabedoria, pois tempo, espaço e recursos são limitados na nossa sociedade atual. E quem escolhe uma coisa perde outra. Ler este texto, por exemplo, é aceitar perder a oportunidade de fazer algo diferente. Por isso, saber competir, sobretudo consigo mesmo, é uma valiosa aprendizagem.

Só que aprender a competir implica aprender a cooperar. Sem cooperação entre jogadores, nenhum jogo é possível. Trata-se de respeitar regras, consentir em jogar sucessivamente ou ao mesmo tempo, ainda que em posições contrárias. É saber compartilhar em favor de algo além dos jogadores: a partida ou o torneio. Professores, gestores e todo o sistema escolar precisam aprender a cooperar em nome da realização de um projeto ou do compromisso social que aceitaram - ensinar a seus alunos conteúdos disciplinares e formas de convivência. Na comunidade científica ou em uma empresa, todos planejam e realizam em comum, não importam as diferenças entre suas tarefas, formas de pensar e trabalhar. Cooperar supõe autonomia, respeito mútuo, reciprocidade e responsabilidade com prazos e objetivos. Como é difícil cooperar e trabalhar em grupo!

Cooperação e competição, como esboçamos, não são termos contraditórios. Eles se opõem, complementando-se. Há de se aprender a cooperar no processo e a competir pelo resultado. Eles são como lâminas de uma mesma tesoura. Devem trabalhar juntos, ainda que em posições contrárias, para que se cumpra uma função ou um objetivo. Cooperar na hora de competir é conluio, no jogo, estraga o prazer de saber que venceu porque foi o melhor naquela partida. Competir na hora de cooperar é negativo; em vez de juntar forças em torno de algo comum e superior, acaba desviando-as e comprometendo-as. Aprender a competir e a cooperar na perspectiva de sua complementaridade ou interdependência é fundamental na escola, porque é também na vida. 

Dia do Amigo

20 de julho
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