"Talvez você tenha ficado até surpreso de saber que tanta gente jovem seja apaixonada por essa ciência tão injustiçada, vítima de tanto preconceito, mas a série especial de reportagens que o Jornal Nacional está apresentando nesta semana mostra que a matemática está em toda parte. Se prestar atenção, você vai ver e ouvir também.
O Noah já tinha 4 anos quando nasceram o Elias e a Paulina, que são gêmeos. E todos já eram bem grandinhos quando a Fernanda e o Eduardo tiveram a Teresa e o Arthur. E agora, nessa casa de cinco filhos, tudo acontece ao mesmo tempo. Enquanto ele almoça, ela faz ginástica. Enquanto um filho chora, a outra chora também. Enquanto um atrapalha, o outro implica.
“Aí, pessoal da câmera, ele é muito chato, gente”, disse um dos filhos.
É um tal de corre para lá, corre para cá, que não para nunca.
“Eu não durmo a noite, a realidade é essa”, disse a mãe Fernanda.
E ainda tem espaço para Maya.
“Exatamente, aí é tipo um batalhão. Todo mundo acordando, escova os dentes, vamos trocar pijama, dormir, banho. É tudo a mesma regra para todo mundo”, disse a mãe.
Sem perceber, essa família é craque em um conceito simples de nome complicado: o logaritmo. A sequência dos logaritmos forma uma espécie de régua distorcida. O salto do zero até o primeiro é grande. Depois, os outros números vão se apertando e arrumando um lugarzinho. Mais ou menos como os filhos da Fernanda.
“O primeiro filho muda muito. Depois que você tem três filhos, depois que você tem dois, aí três, quatro sempre cabe mais um. Então realmente foi bem logarítmico”, explicou a Fernanda.
Para entender os logaritmos, nada melhor do que a escuridão e a luz. Uma pequena intensidade de iluminação já faz muita diferença. Por exemplo, eu que não estava enxergando nada já consigo ver o matemático Marcelo Viana.
Repórter: Tudo bem, Marcelo? Marcelo, como a matemática explica isso?
Marcelo Viana (diretor do Impa): Nós temos fenômenos que o efeito não é proporcional à causa. No início, com um pouquinho de intensidade de luz, você consegue ver já bem. E agora se nós aumentarmos ainda mais essa intensidade.
Repórter: Não estou enxergando nada mais do que eu já enxergava antes.
Marcelo Viana: Pois é. Em situações como essa, nós representamos tais fenômenos usando escala logarítmica, porque o logaritmo traduz essa ideia de que o efeito vai ficando cada vez menor.
E um palco iluminado pela matemática não pode ficar vazio. Frações invisíveis se espalhando pelo ar: as notas musicais são números em movimento. O quarteto Uirapuru vai mostrar que os instrumentos podem ser máquinas de calcular, especialistas em dividir.
A divisão de um mesmo compasso vai transformando o ritmo.
Músico: Essas são as infinitas combinações que nós temos para o ritmo musical e para as melodias. É pura matemática.
E essa lei vale para todos os ritmos. Na bateria, cada instrumento divide o compasso em tempos diferentes. O mestre vai juntando o resultado de todas essas contas e assim é que nasce o samba.
Ser músico é fazer contas, mesmo sem perceber. No braço do violino, o deslizar dos dedos é uma operação matemática constante, dividindo a corda em diferentes tamanhos. Cada tamanho diferente produz uma nota diferente.
Quem descobriu tudo isso foi o matemático Pitágoras. A violoncelista vai repetir o que ele fez 2.500 anos atrás.
Músico: Isso foi Pitágoras que observou. Por exemplo, essa corda aqui está presa entre dois pontos. O fato de ela estar presa é que faz ela emitir essa vibração.
Marcelo Viana: Legal. Quando você está com a corda completa, você tem uma nota com uma certa frequência. Na hora que você bota o seu dedo, o efeito é que a corda fica com a metade do comprimento, aí a frequência é o dobro.
Depois, dividindo a corda por três ou por quatro, Pitágoras encontrou sons que agradavam e outros que machucavam o ouvido.
Músico: Parece buzina de carro, né?
Marcelo Viana: Parece.
O que nós chamamos de dó, ré, mi, fá, são frações do comprimento da corda. Pitágoras descobriu as frações que combinavam melhor. De certa forma, o pai da matemática pode ser considerado o autor da primeira composição da história: a escala.
"Matemática é maravilhoso”, disse o matemático diretor do Impa, Marcelo Viana.
De Pitágoras a Villa-Lobos, a música evoluiu muito. A matemática também avançou, mas ainda não descobriu uma forma mais bonita de fazer contas de dividir."
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