História de São Paulo (cidade)
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A
história da cidade de São Paulo ocorre paralelamente à
história do Brasil, ao longo de aproximadamente 461 anos de sua existência, contra os mais de quinhentos
anos do
país. Embora tenha sido marcada por uma relativa inexpressividade, seja do ponto de vista
político ou
econômico, durante os primeiros três
séculos desde sua fundação,
São Paulo destacou-se em diversos momentos como cenário de variados e importantes momentos de ruptura na história do país.
São Paulo surgiu como
missão jesuítica, em
25 de janeiro de
1554, reunindo em seus primeiros
territórios habitantes de origem tanto
européia quanto
indígena. Com o tempo, o
povoado acabou caracterizando-se como entreposto comercial e de serviços de relativa importância regional. Esta característica de
cidade
comercial e de composição heterogênea vai acompanhar a cidade em toda a
sua história, e atingirá o seu ápice após o espetacular crescimento
demográfico e econômico advindo do
ciclo do café e da
industrialização, que elevariam São Paulo ao posto de maior cidade do país.
Período colonial
Antecedentes
Em
1532,
Martim Afonso de Sousa funda, no
litoral paulista, a primeira vila brasileira,
São Vicente. Donatário da
capitania de São Vicente, Martim Afonso incentiva a ocupação da região e outras vilas são criadas no litoral (
Itanhaém,
1532;
Santos,
1546). Poucos anos depois, vencida a barreira representada pela
serra do Mar, os colonizadores avançam pelo
planalto Paulista, estabelecendo novos povoados. Em
1553,
João Ramalho, que vivia no planalto desde antes da criação de São Vicente, funda a vila de
Santo André da Borda do Campo, situada no
caminho do mar (atual região do
ABC paulista). Explorador português, João Ramalho era casado com a índia
Bartira, esta, por sua vez, filha do cacique
Tibiriçá, chefe da tribo dos
guaianases. Encontrava-se, dessa forma, apto a exercer a função de intermediário dos interesses portugueses junto aos
indígenas.
Fundação
Em janeiro de
1554, um grupo de
jesuítas, comandado pelos padres
Manuel da Nóbrega, superior da ordem no Brasil, e
José de Anchieta, chega ao planalto, auxiliado por João Ramalho. Com o objetivo de
catequizar os índios que viviam na região, os jesuítas erguem um barracão de
taipa de pilão, em uma colina alta e plana, localizada entre os rios
Tietê,
Anhangabaú e
Tamanduateí, com a anuência do cacique Tibiriçá, que comandava uma
aldeia de guaianases nas proximidades. Em
25 de janeiro daquele ano, dia em que se comemora a conversão do
apóstolo Paulo, o padre
Manuel de Paiva celebra a primeira
missa na colina. A celebração marcou o início da instalação dos jesuítas no local, e entrou para a história como nascimento da
cidade de São Paulo. Dois anos depois, os padres erguem uma
igreja – a primeira edificação duradoura do povoado. Em seguida, ergueram o
colégio e o pavilhão com os aposentos. Destas construções originais, resta apenas uma parede de taipa, onde hoje encontra-se o
Pátio do Colégio.
Ao redor do colégio formou-se uma pequena povoação de índios convertidos, jesuítas e colonizadores. Em
1560, a população do povoado seria expressivamente ampliada, quando, por ordem de
Mem de Sá,
governador-geral da colônia, os habitantes da vila de
Santo André da Borda do Campo são transferidos para os arredores do colégio. A
vila
de Santo André é extinta, e o povoado é elevado a esta categoria, com o
nome de "Vila de São Paulo de Piratininga". Por ato régio é criada, no
mesmo, ano, sua
Câmara Municipal,
então chamada "Casa do Conselho". É provavelmente nesse mesmo ano de
1560 que é criada a "Confraria da Misericórdia de São Paulo" (atual
Santa Casa de Misericórdia).
Em
1562, incomodados com a aliança entre guaianases e
portugueses, os índios
tupinambás, unidos na
Confederação dos Tamoios,
lançam uma série de ataques contra a vila. A defesa organizada por João
Ramalho impede que os tupinambás entrem em São Paulo, e os obriga a
recuar, em
10 de julho do mesmo ano.
Ainda em 1590, com a iminência de um novo ataque a cidade novamente
se prepara com obras de defesa, e é claro que nesse ambiente cheio de
incertezas a prosperidade se torna impossível. Mas na virada do século
XVII a situação se acalma e se consolida o povoamento, nas palavras de
Alcântara Machado:
- Afinal, com o recuo, a submissão e o extermínio do gentio
vizinho, mais folgada se torna a condição dos paulistanos e começa o
aproveitamento regular do chão. Deste, somente deste, podem os colonos
tirar sustento e cabedais [bens materiais]. É nulo, ou quase nulo, o
capital com que iniciam a vida. Entre eles não há representantes das
grandes casas peninsulares [famílias do Reino], nem da burguesia
dinheirosa. Certo que alguns se aparentam com a pequena nobreza do
reino. Mas, se emigram para província tão áspera e distante, é
exatamente porque a sorte lhes foi madrasta na terra natal. Outros, a
imensa maioria, são homens do campo, mercadores de recursos limitados,
artífices aventureiros de toda casta, seduzidos pelas promessas dos donatários ou pelas possibilidades com que lhes acena o continente novo1 .
Ocupação da Cidade
Desde o início, a ocupação das terras da cidade se deu de forma policêntrica, com diversos
aldeamentos, principalmente
jesuítas mas também de outras
ordens eclesiásticas,
em torno das quais iniciavam-se as aglomerações. A motivação mais
natural para isso, em São Paulo, era o relevo da cidade, com muitos
aclives e riachos. A organização urbana, da mesma forma que em toda a
colônia, era centrada, administrativa e eclesiasticamente, nas
paróquias. Cada paróquia era centrada em uma capela.
2
A primeira paróquia foi, naturalmente, a Freguesia da Sé, fundada em
1589.
Conforme os demais núcleos foram crescendo, eles desmembraram-se, com
novas capelas ganhando status de paróquia. As paróquias desmembradas do
centro foram
2 :
- 1796, 26 de março: Paróquias de Nossa Senhora do Ó e Penha de França, ambas distantes cerca de 10 km do centro;
- 1809, 21 de abril: Paróquia da Santa Ifigênia, mais próxima mas naturalmente separada pelo rio Anhangabaú;
- 1812, 21 de outubro: Paróquia de São Bernardo, que no ano seguinte (1813, 9 de novembro) foi ainda elevado a distrito;
- 1818, 8 de junho: Paróquia do Brás, também mais próxima, mas naturalmente separada pelo rio Tamanduateí.
Além dessas, houve diversos aldeamentos mais distantes. Dentre eles, apenas dois prosperaram: o de
Pinheiros e o de
São Miguel, ambos fundados por
José de Anchieta em
15602 . Diversos aldeamentos foram dizimados pela
varíola, dentre os quais podemos citar:
Itaquaquecetuba,
Mboy,
Itapecerica,
Barueri,
Guarapiranga,
Carapicuíba,
Ibirapuera e
Guarulhos.
2
|
Depois de ultrapassar a Igreja da Penha sobre sua pequena colina,
ele descortinaria, ao longe, o sítio inteiro da cidade. Sobreposta sobre
outra colina, São Paulo apareceria-lhe dominado pelas torres de suas
oito igrejas, seus dois conventos e seus três mosteiros. Era ainda
necessário caminhar quase nove quilômetros, atravessar o pequeno
aglomerado formado em torno da Igreja do Brás, passar o sítio pantanoso
do Carmo, cruzar a ponta lançada sobre o Riacho do Tamanduateí para
chegar afinal ao centro urbano.2 |
|
A base da alimentação nos primeiros tempos era formada pela
canjica, ensinada pelo índio, e o
angu de
fubá
ou de farinha de milho e de mandioca. Convenientemente que esses
alimentos não precisavam de sal, que naquela época era raro. A mandioca,
que era o principal alimento no início do aldeamento, foi aos poucos
sendo superada pelo milho. O trigo, embora desse bem na região, não foi
muito utilizado no início - apenas para hóstias e bolinhos - devido a
facilidade de se obter a mandioca e o milho. Apenas nos primeiros anos
do século dezessete que se iniciou uma produção maior de trigo, com pelo
menos cinquenta plantadores de trigo no planalto e diversas licenças da
Câmara para os moradores fazerem seus próprios moinhos.
3
Além desses alimentos-base, poderia-se encontrar frutas bravas e
selvagens, palmitos e outros alimentos encontrados nas roças dos índios
4 , bem como muitas frutas européias como maçãs, pêssegos, amoras, melões e melancias.
5 A cultura da
vinha
também teve desenvolvimento nos primeiros anos, sendo que se encontrava
sempre muito vinho na vila, a não ser quando os comerciantes espertos
tentavam o
açambarcamento.
Esses vinhos muitas vezes eram utilizados como remédio, servindo de
veículos para plantas medicinais. O mesmo se dava com a cachaça que era
produzida na região.
3
Os bandeirantes
No
século XVII,
as atividades econômicas da vila limitavam-se quase que exclusivamente à
agricultura de subsistência. A produção e exportação de
açúcar não tinha grande desenvolvimento, embora crescessem outros cultivos nos arredores da vila, como o de
trigo,
mandioca e
milho, além da criação de
gado.
Não obstante, São Paulo permanecia como um núcleo de povoamento pobre e
isolado das áreas mais dinâmicas da colônia. Assim, já nas primeiras
décadas do século, os paulistas começaram a organizar as
bandeiras – grandes expedições que partiam em direção aos sertões inexplorados da colônia, em busca de
mão-de-obra indígena, pedras e metais preciosos. Em pouco tempo, os
bandeirantes se tornariam os grandes responsáveis pela ampliação dos limites das
fronteiras da colônia, incorporando ao território do
Brasil inúmeras áreas que, de acordo com o
Tratado de Tordesilhas, pertenciam à
Espanha.
Os bandeirantes se tornariam figuras centrais na história política de
São Paulo no século XVII, e a autoridade local dos exploradores por
vezes sobrepujava os interesses da
Igreja Católica e da própria coroa portuguesa. Em
1640,
a forte oposição dos jesuítas à captura e comercialização da
mão-de-obra indígena promovida pelos bandeirantes levou a uma série de
conflitos entre os dois grupos, que culminariam, em
13 de julho daquele ano, com a
expulsão dos jesuítas de São Paulo, medida que teve apoio dos comerciantes da vila. Os jesuítas só obteriam permissão para retornar a São Paulo em 1653.
É também na vila de São Paulo que se registra, no mesmo ano de 1640, o primeiro
movimento nativista do Brasil, a chamada "
Aclamação de Amador Bueno". Com o fim da
Guerra da Restauração, em que
Portugal
restabeleceu sua independência política da Espanha, os moradores de São
Paulo, principalmente bandeirantes e comerciantes, temiam ser
prejudicados, já que haviam se beneficiado economicamente do contrabando
de índios na região do
rio da Prata durante as décadas em que vigorou a
União Ibérica. Como forma de protesto, declararam São Paulo reino independente, e
Amador Bueno,
capitão-mor, rico morador da vila e irmão do bandeirante
Francisco Bueno, é aclamado como
rei. Amador Bueno, no entanto, rejeita o título e jura fidelidade à coroa portuguesa, encerrando o levante.
Em um primeiro momento, a concentração da atividade bandeirista em
São Paulo fomentou, ainda que de forma tímida, a atividade econômica da
vila, que ensaia exercer, pela primeira vez, a posição de entreposto
comercial. Alguns bandeirantes, enriquecidos com o comércio de escravos
indígenas, faziam benfeitorias na vila.
Fernão Dias, eleito juiz ordinário e presidente da
Câmara Municipal, por exemplo, doou aos
monges beneditinos os recursos necessários para a reconstrução do
Mosteiro de São Bento. Outras ordens religiosas se instalariam na cidade no século XVII, como os
franciscanos, que em 1647 haviam inaugurado o
convento (demolido em 1932, para dar lugar à
Faculdade de Direito) e a
igreja de São Francisco, no
largo homônimo.
A corrida pelo ouro
Em
1690, os bandeirantes paulistas descobriram
ouro no "Sertão do Cuieté", atual estado de
Minas Gerais. Repetiriam o feito alguns anos mais tarde, em
Mato Grosso e
Goiás.
Primeiros a explorar e ocupar o território mineiro, os paulistas logo
enfrentariam a concorrência de luso-brasileiros de outras regiões da
colônia, culminando no conflito denominado
Guerra dos Emboabas.
A descoberta paulista despertou pela primeira vez a atenção do reino
português sobre a vila, já que São Paulo, a essa altura, não apenas
concentrava a partida das expedições, mas também tornara-se o núcleo
principal de irradiação das correntes de povoamento que se dirigiam para
Minas Gerais e, posteriormente, para o Mato Grosso e Goiás. Como
conseqüência, em
1709, São Paulo substitui São Vicente como sede administrativa da capitania (que tem seu nome alterado para
Capitania de São Paulo e Minas de Ouro). Em
1711, São Paulo é elevada a
cidade. Conta nesse ano 9 mil habitantes. Em 1745, torna-se sede de
bispado autônomo, separando-se da
diocese do Rio de Janeiro.
Embora a corrida pelo ouro de Minas tenha enriquecido muitos
desbravadores paulistas, o efeito sobre a cidade foi o oposto. O
esvaziamento populacional empobreceu São Paulo, que assistiu a um longo
período de estagnação em seu crescimento econômico. Com o esgotamento
das jazidas mineiras, na segunda metade do
século XVIII,
a situação se agrava, e muitos paulistas retornam aos seus locais de
origem. A cidade recebe novo fluxo populacional e tenta reorganizar sua
atividade econômica.
O ciclo do açúcar
O governo paulista passa a desenvolver um plano de fixação de suas
populações em áreas exploradas da capitania, e começa a fornecer
incentivos à lavoura e à indústria. O plantio da
cana-de-açucar é estimulado nas áreas a sudeste da capital, e grandes fábricas de
tecelagem e
fundição são instaladas. Em
1792, a abertura da
Calçada do Lorena,
importante obra de engenharia do período colonial, ligando as cidades
de São Paulo e Santos, forneceria condições adequadas para o transporte
de açúcar e de outros gêneros alimentícios produzidos no
interior
da capitania. São Paulo é beneficiada por sua posição geográfica
estratégica, como encruzilhada natural das vias de circulação entre o
interior e o litoral da colônia. Afirma então seu papel de centro
comercial, através do qual se fazia o escoamento da produção, rumo ao
porto de Santos.
De forma ainda intermitente, São Paulo começa a prosperar, e novas
edificações são erguidas. Em 1750, com a expulsão dos jesuítas do
Brasil, dessa vez por determinação do
marquês de Pombal, os bens da ordem são confiscados. A
igreja dos jesuítas,
reconstruída no início do século XVIII, é transformada em sede da
administração da capitania (agora, já separada de Minas Gerais e
renomeada
Capitania de São Paulo). Em 1765, é fundada a Casa de Ópera do Pátio do Colégio, primeiro teatro da cidade, e em 1775 é inaugurado o
Cemitério dos Aflitos, primeira
necrópole paulistana, destinada ao enterro de pobres, escravos e condenados à forca. Também do século XVIII são o
Mosteiro da Luz (recolhimento de religiosas construído em taipa de pilão, a partir do projeto de
Frei Galvão, de 1774) e a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco (1787), entre outros. Em
1798, a cidade inaugura seu
Jardim Botânico (atual
Jardim da Luz). Ainda no fim do século XVIII, por iniciativa do marechal
José Arouche de Toledo Rendon, os limites urbanos da cidade são expandidos, com a abertura da
rua São João e da ponte do Marechal, sobre o rio Anhangabaú. Começa a ser formado o Campo do Curro, atual
Praça da República.
Período imperial
O primeiro reinado e a Faculdade de Direito
Durante a maior parte de todo o
século XIX,
São Paulo preservaria as características de uma cidade provinciana, mas
vê crescerem suas possibilidades de desenvolvimento após a
transferência da
Família Real Portuguesa para o
Rio de Janeiro. A
abertura dos portos às nações amigas, decretada por
Dom João VI
em 1808, dá novo alento à economia do litoral paulista, ao passo que
interior da capitania continua a registrar relativa prosperidade com a
plantação da cana-de-açúcar. A capital, situada em meio à rota
obrigatória para o escoamento da produção do açúcar, assiste ao
desenvolvimento do comércio.
A Faculdade de Direito, instalada no antigo Convento de São Francisco.
Em 1825, é criada a
Biblioteca Pública Oficial de São Paulo, a primeira da província. Em 1827, é lançado o primeiro
periódico da cidade,
O Farol Paulistano. Em 1828, é inaugurada a
Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Trata-se da mais antiga instituição de
ensino jurídico do país, ao lado da
Faculdade de Direito de Olinda,
ambas instituídas por decreto imperial de 1827. Após a instalação da
faculdade, a cidade recebe o título de "Imperial Cidade e Burgo dos
Estudantes de São Paulo de Piratininga". O conseqüente afluxo de mestres
e estudantes ocasiona uma radical mudança no cotidiano da cidade. Além
de demandar a construção de hotéis, restaurantes e núcleos artísticos, a
aglomeração de
acadêmicos enriquece a vida cultural paulistana. Ao longo da história, a
faculdade (incorporada à
USP
em 1934) tornaria-se responsável pela formação de parte considerável da
elite intelectual e política brasileira, e seu edifício (instalado no
local do antigo convento de São Francisco) foi palco de atos e
manifestações públicas relacionadas a inúmeros fatos da
vida política do país.
Em
1830, o jornalista
Libero Badaró, escritor do
liberal Observador Constitucional (segundo periódico mais antigo da cidade, fundado em 1828), escreve artigo comentando sobre a
Revolução de 1830, na
França, que levou à deposição de
Carlos X,
em que exortava os brasileiros a seguirem o exemplo dos franceses. Logo
em seguida, estudantes da Faculdade de Direito realizam manifestações
públicas de apoio às idéias
republicanas
expressas no artigo do jornalista, e são ameaçados legalmente. O
Observador Constitucional abre campanha em favor dos estudantes, e os
ânimos se exaltam. Em
20 de novembro
deste mesmo ano, Líbero Badaró é assassinado em uma emboscada. A
repercussão na cidade foi imediata: cinco mil pessoas comparecem ao
enterro, e o clamor por justiça leva à prisão do
ouvidor
Cândido Japiaçu, acusado de envolvimento no assassinato. A consequência
principal do episódio é o reforço ao desgaste político de Dom Pedro I,
que por esta e por outras razões, renuncia ao trono no ano seguinte.
O segundo reinado e o ciclo do café
Desde as primeiras décadas do século XIX, a queda dos preços do açúcar nos mercados internacionais havia motivado o
cultivo do café no Brasil. Vindo do
Rio de Janeiro, o café começou a ser extensivamente cultivado em São Paulo, sobretudo na região do
Vale do Paraíba. Em 1850, o café já era o principal produto
exportado por São Paulo. Do Vale do Paraíba, os cafezais se espalharam pelas
terras roxas do oeste paulista, antes ocupadas com a cana-de-açúcar (
Rio Claro,
Campinas e
Jaú), enriquecendo a província. A partir do
reinado de D. Pedro II, a cidade ganha novo impulso com o desenvolvimento da economia cafeeira: os setores de
comércio e de
serviços aumentam consideravelmente e observa-se a formação de uma expressiva
burguesia.
No primeiro
censo nacional, realizado em 1872, São Paulo contabilizava 31.385 habitantes. A cidade ganha casas exportadoras e vários
bancos de
financiamento.
Sua fisionomia começa a mudar: o casario baixo e acanhado começa a
ceder lugar a edificações maiores e tipicamente urbanas. Com vistas a
garantir a salubridade, é inaugurado, em 1858, o
Cemitério da Consolação, o mais antigo em funcionamento da cidade. Em 1865, é fundado o
Teatro São José. Em 1872, são instalados os serviços de
abastecimento de água,
esgoto e
iluminação a gás, e é criado o
sistema de transporte com
bondes de
tração animal.
Em 1884, começam a funcionar as primeiras linhas telefônicas. Para
suprir as necessidades educacionais da crescente elite paulistana e
minorar os problemas provenientes da falta de habilitação técnica, a
iniciativa privada inaugura as primeiras instituições de ensino (
Instituto Presbiteriano Mackenzie, em 1870;
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, em 1873;
Escola Alemã, em 1878).
Após a
década de 1880,
o café teve nova valorização internacional. Os fazendeiros paulistas,
entretanto, tinham de lidar com o problema da escassez de trabalhadores.
Após a promulgação da
Lei Eusébio de Queirós e a consequente abolição do
tráfico negreiro,
ocorrida em 1850, os escravos negros tornaram-se escassos e cada vez
mais caros. Para substituí-los, começaram a chegar os imigrantes,
sobretudo
italianos.
Um número significativo desses imigrantes fixou-se na própria capital,
empregando-se nas primeiras indústrias que se instalavam nos bairros do
Brás e da
Mooca, a partir de investimentos provenientes dos lucros obtidos pelos empresários do setor cafeicultor. Em 1882, é fundada a
Hospedaria dos Imigrantes, a princípio no
Bom Retiro (1882) e posteriormente na Mooca (1885).
República Velha
O auge do período do café é representado pela construção da segunda
Estação da Luz (edifício que hoje recebe tal denominação) no fim do
século XIX.
Neste período, o centro financeiro da cidade desloca-se de seu centro
histórico (região chamada de "Triângulo Histórico") para áreas mais a
Oeste. O
vale do rio Anhangabaú é ajardinado e a região do outro lado do rio passa a ser conhecida como
Centro Novo. Os melhoramentos realizados na cidade pelos administradores
João Teodoro Xavier e
Antônio da Silva Prado
contribuem para o clima de desenvolvimento: estudiosos consideram que a
cidade inteira foi demolida e reconstruída. Neste período a cidade
passa a ser chamada, por estes estudiosos como a "cidade da alvenaria",
visto que o sistema construtivo adotado passa a ser a
alvenaria,
especialmente aquela importada da Europa. Tal mudança altera
profundamente a paisagem da cidade: seus habitantes consideram os
estilos arquitetônicos do período colonial como "antiquados" e
"provincianos" e passam a adotar o ecletismo possibilitado pela
alvenaria. O atual edifício da
Pinacoteca do Estado (construído em
1900 para sediar o
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo) é exemplar deste período da cidade.
Século XX
Com o crescimento industrial da cidade, no século XX, a sua área
urbanizada passou a aumentar em ritmos acelerados, sendo que alguns
bairros residenciais foram construídos em lugares de chácaras. O grande
surto industrial se deu durante a
Segunda Guerra Mundial, devido à crise na
cafeicultura e às restrições ao comércio internacional, o que fez a cidade ter uma taxa de crescimento muito elevada até os dias atuais.
Atualmente, o crescimento vem-se desacelerando, devido ao
desenvolvimento industrial verificado em outras regiões do Brasil. A
cidade passa por um processo de transformação em seu perfil econômico,
convertendo-se de um centro industrial para um grande pólo de comércio,
serviços e tecnologia, sendo, atualmente, uma das mais importantes
metrópoles da
América Latina.
Referências
- Machado, Alcântara. Vida e Morte do Bandeirante. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. Página 40.
- Marcildo, Maria Luisa. A Cidade de São Paulo: povoamento e população, 1750-1850. São Paulo: Pioneira, 1973.
- Silva Bruno, Ernani. História e Tradições da Cidade de São Paulo. Segunda. ed. São Paulo: José Olimpio, 1954. p. 260-261.
- de Abreu, Capistrano. Capitulos da Historia Colonial. [S.l.: s.n.].
- de Vasconcelos, Simão. Cronica da Companhia de Jesus do estado do Brasil. [S.l.: s.n.].
Bibliografia
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_S%C3%A3o_Paulo_%28cidade%29