segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Como definir o pacto de convivência com os alunos no começo do ano?


No primeiro dia de aula, é comum que os professores, durante suas apresentações, falem das regras a serem seguidas ao longo do ano – bem como das consequências quando forem descumpridas. Acontece que, na maioria das vezes, mais cedo do que desejamos, os alunos não só deixam de se orientar por elas, como simplesmente as esquecem. Isso, normalmente, desencadeia desgastes e conflitos nas relações entre os docentes e os estudantes. O que podemos fazer, então, para evitar os embates?
A resposta está relacionada aos nossos objetivos como educadores. Se desejamos auxiliar na formação da autonomia cognitiva e moral dos alunos, logo entenderemos que não basta listar o que pode ou não ser feito por eles. É necessário engajá-los em suas responsabilidades. E para fazer isso, os primeiros contatos no início do ano são muito favoráveis. Neste momento, há por parte dos alunos e professores maior disposição para um diálogo desse tipo.
Por isso, além da conversa “quebra-gelo”, quando o docente faz sua apresentação pessoal, vale sugerir que ele proponha à turma uma atividade reflexiva sobre a qualidade do clima que se quer e se deve ter, focando nas características relacionais e não nas materiais. É possível que já neste momento algumas regras surjam naturalmente. A ideia é discutir e construir com cada turma os acordos, o contrato ou o pacto de convivência – a escolha do nome, junto com os alunos, também faz parte da atividade.
Nesta atividade, o ideal é que se registre todas as sugestões apresentadas pela garotada, mesmo aquelas “sem noção” e, depois, se faça um debate sobre quais itens registrados são direitos de cada um e quais são os de todos. Cabe ao professor deixar claro para a classe que o direito de um nunca deve ferir o direito do outro. Via de regra, os alunos destacam alguns pontos que se referem aos direitos centrais de uma Educação de qualidade. Isso abre espaço para o professor resumir tudo em uma lista que agrupe os tópicos de acordo com o princípio ao qual eles se relacionam.Por exemplo: “Ter mais de uma explicação para entender uma tarefa” e “ter aulas ‘diferentes’” estão ligados ao princípio de uma boa aprendizagem. “Poder errar sem medo de ser ‘zoado’” e “ser chamado a atenção em particular e não na frente de todos”, por sua vez, diz respeito aos princípios do respeito e da justiça.
À medida que os direitos são agrupados, é importante também tratar sobre as responsabilidades, afinal não há como desvincular uma coisa da outra. Identificar o que compete a cada um para que os direitos sejam preservados será, portanto, um processo natural, verdadeiro e reflexivo. Assim que o quadro estiver completo, é hora de nomear os princípios presentes: boa aprendizagem, comunicação, segurança, respeito etc. O resultado disso é contrato de convivência da turma, que, como tal, deve se tornar público,tanto para os estudantes como para as famílias.
No decorrer dos dias, serão muitas as oportunidades de convidar a classe ou, quando for o caso, alguns alunos em particular, a refletir sobre quais princípios estão sendo preservados – ou não –, o porquê e o que deve ser feito para garanti-lo. Quanto mais professores adotarem uma prática reflexiva sobre a convivência na escola, maior a chance das atitudes positivas estarem presentes nas relações.
Se o professor decidisse apenas criar um quadro de regras e ditá-las aos alunos, eles poderiam até decorá-las caso elas fossem repetidas muitas vezes, mas, certamente, não seriam internalizadas – o que, de fato, nos interessa para o desenvolvimento da autonomia. Obedecer à regra sem pensar a razão de ela existir e se realmente é justa e necessária é estar ancorado na heteronomia. O processo descrito acima, sem dúvida, é mais trabalhoso. Mas nos garante a coerência em relação aos nossos objetivos.

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