O que é ser professor no Brasil? A pergunta é complicada de se responder. Estamos falando de uma profissão com problemas estruturais e que, ao mesmo tempo, carrega uma grande expectativa por parte da sociedade e dos governantes.
De modo geral, a carreira do professor brasileiro está cercada por desafios desde o início. Desde a formação, passando pelos baixos salários e perspectivas de crescimento na carreira, além das más condições de trabalho. Esse cenário comum à maioria dos docentes (sobretudo os que dão aulas para a rede pública de ensino) é um dos fatores que leva a educação brasileira a apresentar resultados ruins em exames internacionais que medem a avaliação de nossos alunos, por exemplo.
Nós já listamos 4 desafios para a educação no Brasil e, agora, destacamos outros 4 pontos que atingem diretamente os professores. Você acrescentaria mais algum?
Boa leitura!
1) Formação adequada
O Censo da Educação 2015 revelou que 40% dos professores que atuam nas escolas públicas brasileiras não têm formação adequada para as disciplinas que dão aulas. Em números absolutos, isso significa que dos 518 mil docentes, 200 mil ensinam alunos matérias de áreas diferentes às quais se formaram. Estão nessa situação quase 70% dos professores de Física, por exemplo.
Outro dados espantoso é que 12% dos professores brasileiros sequer terminaram o ensino superior. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), isso tem uma justificativa – o que revela outros grandes desafios para o professor no Brasil: baixos salários e falta de atratividade na profissão, o que resulta também no baixo interesse dos alunos.
2) Valorização é um dos desafios para o professor no Brasil
Sobretudo nos últimos anos, em que o brasileiro passou a se manifestar de forma presente nas ruas das principais cidades, a educação passou a ser vista (e, de certa forma, exigida pela sociedade) como prioridade. No entanto, esse discurso esbarra na prática adotada pelos municípios, estados e a União.
O aspecto mais básico dessa discussão começa pelo pagamento de um salário justo. No Brasil, o piso para a categoria, considerando uma jornada de trabalho de 40 horas semanais nas escolas públicas, é de R$ 2.135,64. No entanto, mesmo se tratando de lei, vários estados sequer cumprem o que determina o texto.
Em março deste ano, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) divulgou um balanço em que 14 estados ainda não cumprem com a determinação. De acordo com a tabela, os governos de Alagoas, Goiás, Maranhão, Paraíba, Paraná, São Paulo, Tocantins e Rio Grande do Sul não pagam o valor do piso para os professores com formação de nível médio. Os que têm formação superior recebem o valor atualizado. Já os governos estaduais da Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Rondônia e Pernambuco não pagam o valor no vencimento (como determina a lei), mas usa de gratificações e complementações para chegar ao valor no contracheque. Espírito Santo não paga o piso salarial nem mesmo dessa forma.
3) Violência em sala de aula
Esse cenário de desvalorização dos docentes é, sem dúvida, uma das causas para um outro dado preocupante que veio à tona em um levantamento feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Conforme os resultados de uma pesquisa global feita com mais de 100 mil professores em todo o mundo, o docente brasileiro é o que mais sofre com a violência em sala de aula.
De acordo com o estudo, nada menos que 12,5% dos docentes brasileiros questionados disseram ser vítimas de agressões verbais ou outras formas de intimidação por parte de alunos ao menos uma vez por semana. O índice é quase quatro vezes superior à média obtida em outros países – os que chegam mais perto dessa realidade são a Estônia (11%) e a Austrália (9,7%), ao passo que Coreia do Sul, Romênia e Malásia registraram índice zero. O chefe da divisão de inovação e mediação de progressos em educação da OCDE, Dirk van Damme apresentou uma justificativa para o índice: “A escola, hoje, está mais aberta à sociedade. E os alunos levam para sala de aula seus problemas cotidianos”.
4) O multi professor de horário integral
Uma outra característica típica do ensino brasileiro e que vai na contramão do que é adotado nos países com bons índices de educação é a carga horária do professor. A começar do tempo gasto dentro da sala de aula. De acordo com uma pesquisa da OCDE, em média, os professores brasileiros trabalham 25 horas semanais. Isso é maior que a média dos demais países estudados – em que os docentes passam, cerca de 19 horas dando aulas a seus alunos.
Aliás, o perfil do trabalho do professor brasileiro, como um todo, também difere do restante do mundo. Enquanto em outros países com índices melhores que o nosso o professor passa menos tempo em sala de aula e trabalha em apenas uma escola de horário integral, aqui o cenário é o oposto: muito tempo em sala e dando aulas em mais de uma escola.
De acordo com dados da Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizado (Talis), nada menos que 60% do total dos docentes trabalha em mais de uma instituição de ensino. Esse dado é bastante diferente do que se vê em outros países, que se destacam com uma boa qualidade na educação. Na Coreia do Sul, a dedicação exclusiva é realidade para 99,3% dos docentes; em Cingapura, 95%; e na França, 85%. A média é de 82%.
Sem dúvida, os aspectos levantados neste texto – como os baixos salários e a desvalorização da profissão – forçam os docentes a trabalhar em mais de uma escola e em mais de um turno. Gostaríamos de saber de você qual a realidade na escola em que você dá aula. Você se enquadra nesse panorama? Tem outros desafios para compartilhar? Escreva neste post.
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