Professora de São José dos Pinhais (PR) conta como resgatou o interesse dos alunos com novas metodologias e uso de tecnologia
"Trabalho há cinco anos na Escola Municipal Irmã Maria Eufrásia Torres, em São
José dos Pinhais (PR). Comecei na alfabetização e depois passei a desenvolver
atividades no Mais Educação [programa do governo federal que amplia a jornada
escolar e a organização curricular na perspectiva da educação integral].
Caí de paraquedas na área de tecnologia, mas aos poucos fui me encantando.
Caí de paraquedas na área de tecnologia, mas aos poucos fui me encantando.
Quando desenvolvi meu primeiro projeto, que basicamente era fazer um motor rodar de um lado para o outro, fiquei tão extasiada que decidi levar isso para as crianças. Trabalhei com quatro turmas no Mais Educação, mas ano passado assumi o desafio de voltar para a sala de aula com uma turma do quarto ano do ensino fundamental que era considerada bem fraca.
O nível de aprendizado da turma era muito baixo por conta do comportamento. Eles tinham muita dificuldade de leitura, escrita de fazer continhas. Era muito triste, eu não acreditava naquilo. Achava que o professor deveria ter um papel de transformação, então sabia que precisava encontrar uma forma de motivar as crianças. Foi aí que eu comecei a levar inovações para dentro da sala de aula.
Os alunos eram a minha motivação e eu, a deles. Era uma troca dentro da sala de aula. Quando apresentei a eles a proposta de trabalhar com tecnologia, eles começaram a pesquisar estratégias. Como a gente não tinha muitos recursos na escola e a comunidade tinha uma renda baixa, eles deram a ideia de usar carregadores de celular como fonte de energia para os projetos de robótica.
Em uma realidade com poucas perspectivas, comecei a trabalhar muito com eles a possibilidade de empreender e de pensar em uma profissão. Acho essencial que eles saibam que os protótipos e brinquedos que estão construindo nas atividades de robótica podem ser considerados uma verdadeira produção.
Primeiramente, pensamos em algum objeto que queremos construir. A partir dessa ideia, vamos para a segunda etapa que consiste em desenhar. Aqui consideramos toda a parte estética do protótipo porque a ideia é que ele possa ser vendido depois. Por último, vem a construção. Quando a gente precisava mudar a forma de fazer um motor funcionar, eu passava dias e noites vendo vídeos até conseguir uma alternativa para ajudar as crianças.
A parte da robótica teve início quando minha turma participou de uma feira em São José dos Pinhais e muita gente passou a conhecer o nosso trabalho. A comunidade ficou impressionada porque era uma produção feita por crianças e totalmente pensada para brincar.
Também começamos a produzir programas de rádio para trabalhar vários gêneros textuais. A escola tinha poucos materiais e eu cheguei a usar o meu próprio celular para gravar um telejornal.
Durante o ano, recorri a recursos gratuitos como o editor de áudio Audacity e o Scratch, linguagem de programação para crianças criada pelo Media Lab do MIT. São aplicativos que eu amo e acho muito interessante de compartilhar com outros professores. Dentro de sala de aula deram muito certo, e olha que eu trabalhava com trinta alunos.
Além dessas metodologias, eu ainda utilizei gamificação como uma aliada e combinei com os alunos atividades que eles deveriam desenvolver para pontuar. Se eles produzissem tudo durante a semana, a gente usava uma tecnologia na sala de aula. Comecei a usar o interesse deles ao meu favor.
Deu certo. Foi muito bacana ver o potencial e a motivação das crianças. Todos os dias eles queriam fazer alguma coisa diferente. Para uma turma que tinha dificuldade, os alunos terminaram o ano com mais facilidade para ler e escrever, fazer as operações matemáticas e resolver situações problemas. O nível de reprovação foi baixíssimo. No livro de notas, teve aluno que estava tirando 3 e passou a tirar 9. Isso é muito gratificante. Isso me motiva a cada dia buscar e levar mais inovações para eles".
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