José Rosemberg, que trabalha na rede municipal de São Paulo, usa a internet para abrir seus projetos a alunos e colegas de profissão.
Por José Rosemberg
Quando comecei a dar aula, pensava em educação de massa, aquela coisa bem tradicional, com um estudante atrás do outro. Era assim porque trazia comigo a experiência que tive como aluno. Mas ao fazer um curso de formação em uma escola da prefeitura de Embu (município da Grande São Paulo), a perspectiva de projetos mudou meu jeito de dar aula. Passei a ir atrás de outras referências, estudar mais, procurar apoio com outros colegas e começar a fazer diferente. A partir daí, a minha motivação mudou e a dos alunos também.
Nos primeiros anos como professor, fazia projetos offline, que imprimia e encadernava no final do ano para um registro próprio. Até passava para colegas verem, mas isso não me satisfazia muito porque as devolutivas eram sempre “nossa, muito legal”, “nossa, bacana”, mas nada que contribuísse. Mais recentemente, comecei a desenhar o caminho do projeto na ferramenta Popplet (clique aqui para ver exemplo), que é bem maleável e aceita mudanças de direção. Eu faço algumas etapas sozinho, apresento aos alunos e peço ideias para melhorias. Isso esclarece coisas que pareciam obvias, mas que na realidade precisavam ser mais bem explicadas. Numa ferramenta como essa, você fica com o arquivo guardado e pode compartilhá-lo com amigos.
O professor tem que parar (talvez essa seja uma expressão forte) com o medo de se expor. A gente tem que mostrar para os outros, pedir ajuda. Se não der certo, arruma. O professor insiste para que um aluno tímido leia em voz alta, mas não consegue ter esse mesmo tipo de atitude em outras instâncias. Quando você coloca na internet, muitas pessoas veem o que você está fazendo, conversam com você e dizem “achei legal e fiz aqui diferente” e isso contribui muito. Você vai ver que elas não copiam seu trabalho, mas acabam reinventando o que você fez. Hoje, olho planejamentos que fiz há alguns anos e acho ridículo, mas naquele momento tinha 100% de certeza que estava “abafando”. É normal.
Por causa das redes sociais, um dos projetos, chamado “Curiosos em ação”(veja tudo sobre o trabalho aqui), teve grande repercussão até em outras escolas. Ele foi pensado para o segundo ano, porque um dos verbetes que trabalhamos é a curiosidade. Quando trabalhei pela primeira vez em sala, foi aquela coisa bem quadrada: ficha do animal, produção de texto e de um simples mural. Os alunos nem tinham tanto protagonismo. Na segunda turma, quando voltei a tratar do tema, houve aquele “estalo”: Por que não deixar para eles perguntarem? Será que eles conseguem levantar hipóteses? Por que não saber a curiosidade deles a respeito dos animais?
A partir daí saíram coisas bem interessantes que eu sequer havia parado para pensar. Os alunos entendiam curiosidade como uma coisa ruim. Fui tirando isso da frente deles mostrando que se o seres humanos não fossem os curiosos, muita coisa não teria sido inventada. Ao pesquisar na internet, eles se depararam com mais de uma fonte e tive que mostrar como checar pelo menos três sites para ver se a resposta batia mesmo. Quando você tira um aluno da frente do caderno e vai para o computador, o universo que se abre é muito grande. O que a gente precisa é dar a orientação pedagógica para que essa navegação aconteça com qualidade.
Também com o segundo ano, para tratar de receitas, saímos de uma situação-problema: pedi para que eles pesquisassem livros sobre o assunto na sala de leitura da escola, mas não encontraram nenhum. Para resolver isso, propus que todos escrevessem seus próprios livros. Depois de todo o projeto, cada aluno trouxe uma receita que eles criaram em casa com os pais, que vinham até a escola para descarregar fotos dos celulares. Alguns parentes nem sabiam mandar email e acabaram aprendendo por conta disso. No final, todas as receitas foram organizadas e imprimimos uma cópia do livro para cada aluno levar para casa.
Nessa atividade, convidei outros professores, mas não houve adesão. Eram cinco turmas e só duas participaram. Eram quatro horas da tarde, a classe ficou lotada de familiares dos alunos e quase não havia lugar para sentar. Depois disso, os outros professores vieram atrás para saber mais. As pessoas ficam com medo de fazer projetos desse tipo por causa da tecnologia. Mas o fundamental não é a tecnologia, porque ela só vai otimizar e facilitar a aula. A alma do negócio é o encaminhamento pedagógico.
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