quarta-feira, 5 de junho de 2019

5 ações para promover a saúde mental na escola


O clima da sua escola não anda bom? Os professores parecem desestimulados? Há intrigas, casos de bullying e automutilação entre os estudantes? Veja como virar o jogo

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Entre os educadores 66% já tiveram que faltar ou se se afastar do trabalho por um problema de saúde. Em 53% dos casos, o afastamento foi por questões de saúde mental. Entre os principais problemas relatados estão ansiedade (68%), estresse (63%) e depressão (28%). A constatação foi feita em pesquisa* digital realizada por NOVA ESCOLA com mais de 5800 educadores.  
E, se mais de metade dos educadores vêm sofrendo com saúde mental, eles não estão sozinhos. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de um em cada três estudantes entre 13 e 15 anos sofrem bullying regularmente no mundo. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram um aumento de 18% no suicídio de adolescentes de 10 a 19 anos no Brasil. A escola pode ser uma grande aliada para virar esse jogo com um trabalho de prevenção e promoção da saúde mental na escola. Veja abaixo algumas ações que podem contribuir para um ambiente mais saudável emocionalmente. No “LEIA MAIS”, você encontra informações aprofundadas sobre cada um dos tópicos:
1. Considere o tema desde a Educação Infantil
“A gente tem se assustado com os casos muito complicados, mas o caminho para lidar com essas situações é olhar mais cedo para eles”, afirma o psiquiatra Gustavo Estanislau, integrante do grupo Cuca Legal, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e autor do livro Saúde Mental na Escola. Por isso, a promoção e prevenção devem ser ações permanentes dentro do espaço escolar. A base da prevenção é a informação. Com ela, o professor consegue identificar melhor situações de risco, dosar a reação emocional diante de alguém que está enfrentando algum problema de saúde mental e garante mais segurança para conversar com as crianças e adolescentes sobre o tema. Já a promoção, se baseia no autoconhecimento, em desenvolver sentimentos e competências socioemocionais para lidar melhor com as adversidades que podem causar sofrimento emocional.
2. Invista nas competências socioemocionais
As competências socioemocionais se dividem em cinco eixos principais: abertura ao novo (curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico), consciência ou autogestão (determinação, organização, foco, persistência e responsabilidade), extroversão ou engajamento com os outros (iniciativa social, assertividade e entusiasmo), amabilidade (empatia, respeito e confiança) e estabilidade ou resiliência emocional (autoconfiança, tolerância ao estresse e à frustração). O estudo Competências para o Progresso Social – O poder das Competências Socioemocionais identificou alguns benefícios do desenvolvimento dessas características. Entre eles estão o apoio à aprendizagem, diminuição de 12% do risco de sofrer bullying até o final do Ensino Fundamental e mais chances de concluir o Ensino Superior.
3. Seja consciente nas suas próprias atitudes e discursos
Só focar no desenvolvimento das competências socioemocionais dos estudantes não é suficiente. Não é uma aula expositiva sobre empatia que fará seus alunos serem mais empáticos diante de situações de adversidades. As socioemocionais são aprendidas, por exemplo, em situações de convivência, na interação interpessoal e por meio da observação do ambiente. Assim, a atitude do educador pode fazer toda a diferença. O simples fato de reagir com um “não doeu” diante de uma queda de uma criança pequena, por exemplo, ignora a competência de se colocar no lugar do outro, a empatia e engajamento com os outros. Reconhecer a dor alheia e acolher a criança exige, muitas vezes, uma postura de mudança. “Em diversas situações, dizemos para a criança se descolar de si mesma e, sem perceber, passamos por um processo de desalfabetização emocional”, diz Rosane Voltolini, coordenadora dos núcleos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul da Associação pela Saúde Emocional das Crianças (ASEC).
4. Deixe os preconceitos, medos e moralismo de fora da conversa
Praticar a escuta sensível é essencial para garantir que haja diálogo entre o interlocutor e quem encara um sofrimento emocional. Se o interlocutor não se colocar na conversa com abertura, o papo pode não ter o efeito desejado e deixar o aluno acuado para falar sobre o assunto em um momento futuro. A “trava” na conversa pode surgir tanto durante as trocas – com uma reação emocional exagerada, por exemplo, sobre o que está sendo dito – ou mesmo antes desse diálogo acontecer. Ao estigmatizar e julgar determinados comportamentos, objetos e ações, a criança ou adolescente pode nem sequer sentir abertura ou à vontade para compartilhar seus pensamentos, sentimentos e problemas. Uma abordagem que venha colada com julgamentos ou moralismos tem grandes chances de não engajar os alunos. E isso vale para qualquer conversa – do suicídio ao uso das redes sociais. “Não funciona aquela coisa do ‘hoje vamos falar sobre os perigos da internet’. Não faça isso”, aconselha Rodrigo Nejm, diretor de Educação da SaferNet Brasil e doutor em psicologia. Seria mais produtivo para fins de ganhar o aluno para a discussão, se o tema fosse introduzido com perguntas que disparem boas conversas e possam promover uma postura mais crítica.
5. Envolva e empodere os alunos
Um clima escolar favorável é responsabilidade de todos os atores da escola. Os estudantes podem ser ótimos aliados desse processo porque, por vezes, possuem informações sobre a turma que não costumam circular entre os adultos. Além disso, as emoções, atitudes e situações também podem ser melhores acolhidas se o interlocutor for um par. “Muitas vezes, os jovens têm mais dificuldade de falar sobre determinados assuntos com os adultos. Por isso, pensamos que uma boa maneira de fazer isso seria colocar os próprios jovens para falar com as turmas”, explica Catharina Morais, aluna do Colégio Dante Alighieri que desenvolveu em parceria com duas colegas um projeto científico na área de psicologia social sobre saúde mental e construção de identidade.
*Pesquisa realizada de 25 de junho a 19 de julho de 2018 nos canais digitais de NOVA ESCOLA e Fundação Lemann, mantenedora de NOVA ESCOLA. Ao todo, a pesquisa coletou mais de 4.800 respostas completas, de um total de 5.872.

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