quinta-feira, 4 de abril de 2019

Nova série mostra desafios da inclusão de um jovem com autismo na escola

“Atypical” fala sobre bullying, família, amizade e amor de forma leve, mas consciente

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Foto: Divulgação/Netflix
Sam Gardner é um jovem de 18 anos que, com o fim da puberdade, começa a lidar com questões como relacionamento amoroso, sexualidade e independência dos pais. Parece mais um roteiro comum de filme adolescente, mas não é. Sam (interpretado por Keir Gilchrist) tem Transtorno do Espectro Autista. É muito literal, extremamente sincero e péssimo em "captar sinais", como ele mesmo descreve em episódio da série “Atypical” (“Atípico”, em português), nova produção da Netflix já disponível para assinantes.
Criada e escrita por Robia Rashid, a comédia com pitada de drama mostra bastante a vida familiar dos Gardner, mas deixa para o ambiente escolar as discussões sobre bullying e inclusão. “Atypical” não fala apenas sobre as dificuldades e limitações do jovem – e aí mora sua maior qualidade. Sam não é o único atípico da narrativa. Aos poucos, é possível ver a imensa complexidade de todos os personagens, principalmente da mãe, Elsa (Jennifer Jason Leigh), da irmã, Casey (Brigette Lundy-Paine), e do pai, Doug (Michael Rapaport).
Elsa é superprotetora e sofre quando Sam começa a buscar sua autonomia. Ela frequenta, sem o marido, um grupo de apoio a pais de crianças com autismo – de onde sai boa parte do didatismo da série. Casey não aceita ter sido preterida pela mãe, que deu muito mais atenção ao irmão, e pelas amigas, por se relacionar com um garoto indisciplinado que foi expulso da escola. Para completar, ainda tem Doug, que culpa a esposa por nunca ter conseguido se aproximar de Sam, já que ela, como mãe coruja, cuidou de tudo sozinha.
A escola é o ponto de encontro entre Sam e a irritante, mas interessada Paige (Jenna Boyd), que, aparentemente se aproxima para saciar uma curiosidade própria, mas logo se mostra uma peça importante na integração do garoto. Por lá, o bullying e o preconceito se materializam. A maioria dos outros alunos sabe que Sam tem autismo, mas essa pequena noção não é suficiente para que ele seja aceito pelos colegas.
A série não traz uma solução definitiva para a exclusão de Sam, mas apresenta situações facilmente reconhecíveis de um jovem autista dentro do ambiente escolar. Em um episódio, há até um debate sobre como tornar inclusiva uma festa tradicional do Ensino Médio e se é válido o esforço para atender um único estudante. A escola, os pais e os outros alunos se juntam para buscar uma solução, que não seria muito viável na vida real, mas mostra como é possível usar a criatividade em nome da inclusão.
Um retrato, um recorte
Foto: Divulgação/Netflix
"Atypical" aproxima os dilemas de Sam aos de todas as pessoas “neurotípicas” (expressão usada na série para designar àqueles que não apresentam distúrbios psíquicos significativos). A série também foge do clichê de que todos os indivíduos que têm autismo vivem dentro do seu próprio mundo. A condição é apenas uma das camadas da complexidade humana de Sam. Até mesmo sua terapeuta, Julia (Amy Okuda), e seu melhor amigo, Zahid (Nick Dodani) se mostram bastante "anormais", mesmo escondidos sob o disfarce de mentalmente saudáveis.
A série, além de tentar desestigmatizar o autismo, dá pequenas lições sobre o transtorno, caracterizando Sam como um menino que não sabe mentir, não entende indiretas, tem dificuldade de permanecer em lugares barulhentos, com multidões ou muitas luzes – e mostra que há alternativas para que ele seja socialmente aceito.
Sam trabalha, tem empatia, entende regras (e as leva muito a sério), sente desejo, se chateia, tem hobbies (e também os leva muito a sério), se alegra, briga… É um menino apaixonado pela Antártida e por pinguins e, por entender com facilidade os métodos da natureza, tenta aplicar as mesmas normas em suas relações humanas. Com alguns trechos narrados em primeira pessoa, Sam permite que passemos um tempo dentro da sua cabeça e nos prova que sua lógica faz sentido. Por que não faria?

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