Agir sem pensar e demonstrar um comportamento impulsivo podem ser comportamentos comuns entre crianças que estão se adaptando ao ambiente escolar, ao processo aprendizagem e à socialização. No entanto, esses também podem ser sinais que caracterizam alunos com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). São crianças que perdem a atenção com facilidade, se irritam, não conseguem se concentrar. Podem ser desorganizados, têm dificuldades para realizar tarefas até o fim. E a falta de concentração pode se transformar, muitas vezes, em introspecção no ambiente escolar.
Segundo o manual de psiquiatria (DSM 5), os sintomas mais frequentes que fazem parte da descrição do quadro de TDAH são: agitação, falta de atenção e impulsividade.
Comportamentos parecidos podem surgir por diversos motivos na sala de aula, por isso o diagnóstico de TDAH é um processo necessário e criterioso. Uma equipe multidisciplinar formada por um médico, um psicólogo ou um neuropsicólogo realizam entrevistas e colhem informações com os grupos que acompanham a criança na escola e na vida familiar. Também prepararam testes e avaliações para mapear questões fisiológicas, cognitivas e comportamentais para depois fechar um diagnóstico. Segundo o estudo sobre prevalência de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade realizado pelo professor Guilherme Vanoni Polanczyk, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), estima-se que 5% das crianças e adolescentes podem ter TDAH.
A convivência escolar transforma o professor em uma das primeiras pessoas a perceber comportamentos que podem dificultar o desenvolvimento da criança. Cabe a ele, apoiado pelo corpo escolar, à família e aos profissionais que acompanham o tratamento de um aluno com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade manter a atenção nas condições de aprendizagem. “São crianças que desde o início da escolarização vão ter dificuldades para aprender, dificuldades para a alfabetização e dificuldades para evoluir no processo de aprendizagem”, explica Maria Fernanda Coelho da Fonseca, psicopedagoga integrante do Ambulatório de Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).
Diagnóstico não é obstáculo
Existem alguns caminhos que o professor pode seguir para criar possibilidades que incluam o aluno com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade no ambiente escolar e no processo de aprendizagem. Para Regiane Silva, psicóloga especialista em inclusão, um dos caminhos para a aprendizagem da criança com diagnóstico de TDAH é pensar no aluno antes do diagnóstico. “Quando você recebe um aluno, é importante que você tenha essa motivação de olhar esse aluno como pessoa. Quem ele é? Qual é a história dele? Qual é o projeto de vida da família? É a premissa para receber um aluno como professor. Mesmo com um diagnóstico, nós sabemos que cada aluno é um aluno”.
Com as informações sobre a vida do estudante, o profissional pode buscar estratégias de aprendizagem mais inclusivas e promissoras, com apoio da equipe de coordenação e gestão escolar. Mas a busca pessoal do professor, a curiosidade de conhecer as características do transtorno, recursos e estratégias para usar em sala de aula são alguns dos principais fatores de motivação e desenvolvimento, aliados aos instrumentos que o professor já conhece da prática pedagógica.
Rotina de organização
É comum que os estudantes com Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade tenham dificuldade de se encontrar no ambiente, organizar suas tarefas e tempo de estudo, explica a psicopedagoga Maria Fernanda Coelho da Fonseca.
O professor pode ajudá-lo a criar uma rotina de estudos, tanto na sala como em casa, organizando os materiais, estabelecendo alguma relação de planejamento. Os alunos com TDAH também não conseguem estudar por muito tempo, podem se distrair ao longo das horas e necessitam de algumas adaptações. “Ao invés de estudar duas horas, ele pode estudar meia hora, fazer outra coisa e retomar. Fazer as atividades em períodos curtos de estudo porque em um período grande o aluno vai perdendo informação” afirma a especialista.
O professor também pode ficar atento ao local que o estudante frequenta na sala de aula, se a criança permanece perto dele. Segundo especialistas, a primeira carteira não é uma regra, mas é possível procurar outros lugares para que o aluno não fique tão distante do professor. Mantê-lo em uma cadeira e perto de uma mesa pode evitar distrações. Janelas e portas são possíveis distratores e merecem atenção porque dão acesso ao ambiente externo e trazem ruídos que poderão desviar a atenção do estudante.
Acreditar que o aluno pode fazer
Crianças com diagnóstico de TDAH têm a capacidade de analisar próprio desempenho. O estudante percebe que não consegue realizar as atividades e isso pode causar uma mudança de comportamento, de acordo com estudiosos do assunto. “O aluno fica muito encolhido diante desse desafio ou ele se torna uma criança agitada que quer fugir daquela situação”, afirma a Maria Fernanda. O tratamento atencioso do professor pode criar um vínculo positivo entre a criança e o profissional, tornando-a mais segura das suas capacidades quando o professor mostra o quanto ela pode realizar, levando motivação com uma linguagem positiva. “Isso é possível na medida que existe um trabalho no começo do processo de alfabetização. Quando isso acontece no final do processo, existem mais dificuldades para motivar essa criança e buscar estratégias mais adequadas”, explica a psicopedagoga. É importante que o professor estimule o lado positivo e não exija a perfeição, mas que ele busque o empenho do estudante, mostrando que mesmo com as dificuldades ele vai conseguir.
Inclusão com materiais e pessoas
O professor pode procurar conteúdos em formatos diferenciados que facilitem a concentração, dizem especialistas. É o caso de materiais audiovisuais que geralmente servem para qualquer aluno, mas para a criança com TDAH pode ser um fator determinante no processo de aprendizagem. O estudante também pode ser incentivado a responder aos estímulos dos professores de maneiras diferenciadas, uma resposta oral ao invés do desenvolvimento de um texto.
Trabalhos em dupla ou em grupos pequenos proporcionam referenciais comportamentais para os alunos com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, destaca a especialista em inclusão Regiane Silva. “A importância da convivência é igual a de qualquer outra pessoa. Nós somos seres sociais, então não só para crianças com TDAH, mas para todos os alunos é importante estar em um ambiente de convivência e, de preferência, um ambiente diverso”. Nessas condições, as crianças desenvolvem a percepção do próprio espaço e do espaço dos outros.
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