terça-feira, 5 de março de 2019

Sequências Didáticas - Algumas Ideias

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"Uma das facetas das produções científicas é o “empréstimo de modelos” a exemplo do quem tem acontecido nas pesquisas desenvolvidas com ênfase nas chamadas “Sequências Didáticas” – SD – que foram introduzidas no campo da aprendizagem de língua materna e linguagem escrita. Um “empréstimo” desses modelos requer adaptações, (re)formulações com fins da adequação às demandas específicas da disciplina para onde vai migrar. Essas adaptações acabam gerando um fenômeno polissêmico em torno desses modelos que, por sua vez, criam novos contornos estruturais e significados. A concepção de se propor as ações de ensino a partir de textos planejados articuladamente em torno de objetos de aprendizagem se adéqua às expectativas criadas em torno das novas posturas também esperadas em relação aos alunos. As articulações estruturais dessas SD pretendem favorecer a criação de um ambiente no qual “(...) os alunos partilhem ideias, raciocínios, processos, estabeleçam conexões, comparações e analogias, construam conjecturas e negociem significados e desenvolvam capacidades de comunicar e argumentar”. (KFOURI; D’AMBRÓSIO, 2006, p.2).

"Com efeito, proponho no livro um modelo estruturante para a elaboração de Sequências Didáticas no ensino de Matemática. O construto que proponho se alimentou teoricamente em Rêgo (1995) com os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural em Vygotsky do conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), bem como com as contribuições de Goés (2000) com as noções de Análise Microgenética na investigação da construção de conhecimentos nas interações verbais foram determinantes em minha experiência profissional para a concepção desse modelo estruturante. Com o olhar voltado para o processo de reconstrução de conceitos durante as aulas de Matemática concebi um construto teórico denominado Unidade Articulável de Reconstrução Conceitual (UARC) consolidado a partir de uma série de categorias de Intervenções Estruturantes criadas, especificamente, para esse fim. A ideia é propor um modelo que possa servir de referência para a produção de sequências didáticas com o objetivo de ensinar conteúdos curriculares da disciplina Matemática nos níveis Médio e Fundamental. Hoje acredito, após tantos anos de labor dentro de uma sala de aula, sobretudo ao lidar com a aprendizagem de alunos do ensino médio e fundamental, que o modelo de ensino que possibilita a reconstrução das ideias matemáticas por trás dos algoritmos “desalmados” na maioria das vezes, tem um efeito mais significativo e duradouro nas funções psicológicas superiores dos alunos. Nessa perspectiva é preciso que o professor seja incansável na promoção de um discurso dialógico que possibilite aos alunos a reconstrução de conceitos, a identificação de propriedades, a percepção de regularidades e o estabelecimento de generalizações, ainda que numa dimensão intuitiva. Cabe ao professor em minha concepção a árdua tarefa de propor aos alunos um ensino bem articulado que valorize, sobretudo, a reconstrução de conceitos num ambiente de reflexão".

"A ideia de conceber a UARC – Unidade Articulável de Reconstrução Conceitual – surgiu a partir das atividades desenvolvidas pelo Laboratório de Educação Matemática da Universidade da Amazônia (LEMA-UNAMA) em ação integrada com a disciplina de Estágio Supervisionado III no curso de Licenciatura em Matemática. A ideia desenvolvida ali envolvia os futuros professores numa modalidade de produção textual que procurava, a partir de uma situação problemática, reconstruir um ou mais conceitos matemáticos em nível do ensino Fundamental e Médio. Esse gênero textual na verdade trata-se de uma SD. Estou usando esse termo polissêmico no livro como sendo um conjunto articulado de dispositivos comunicacionais de natureza escrita ou oral que sistematiza as intervenções de ensino com a intencionalidade objetiva de estimular a aprendizagem de algum conteúdo disciplinar de Matemática a partir da percepção de regularidades e do estabelecimento de generalizações adotando-se uma dinâmica de interações empírico-intuitivas". 

"A árdua tarefa de associar conteúdos curriculares às metodologias mais adequadas ao ensino não é definitivamente uma tarefa fácil. A formação inicial certamente não é capaz de dar conta de tão grande desafio, mas acredito que tenha um papel muito importante nesse processo de apropriação de saberes que se constitui, na verdade, ao longo de toda uma vida profissional".

Fonte: Cabral, Natanael Freitas. Sequências Didáticas, Estrutura e Elaboração. Belém/Pará 2017. 

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