"Uma das facetas das produções científicas é o “empréstimo de
modelos” a exemplo do quem tem acontecido nas pesquisas desenvolvidas
com ênfase nas chamadas “Sequências Didáticas” – SD – que foram
introduzidas no campo da aprendizagem de língua materna e linguagem
escrita.
Um “empréstimo” desses modelos requer adaptações,
(re)formulações com fins da adequação às demandas específicas da
disciplina para onde vai migrar. Essas adaptações acabam gerando um
fenômeno polissêmico em torno desses modelos que, por sua vez, criam
novos contornos estruturais e significados.
A concepção de se propor as ações de ensino a partir de textos
planejados articuladamente em torno de objetos de aprendizagem se
adéqua às expectativas criadas em torno das novas posturas também
esperadas em relação aos alunos. As articulações estruturais dessas SD
pretendem favorecer a criação de um ambiente no qual “(...) os alunos
partilhem ideias, raciocínios, processos, estabeleçam conexões,
comparações e analogias, construam conjecturas e negociem significados e
desenvolvam capacidades de comunicar e argumentar”. (KFOURI;
D’AMBRÓSIO, 2006, p.2).
"Com efeito, proponho no livro um modelo estruturante para a
elaboração de Sequências Didáticas no ensino de Matemática. O construto
que proponho se alimentou teoricamente em Rêgo (1995) com os
pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural em Vygotsky do conceito de
zona de desenvolvimento proximal (ZDP), bem como com as contribuições
de Goés (2000) com as noções de Análise Microgenética na investigação da
construção de conhecimentos nas interações verbais foram determinantes
em minha experiência profissional para a concepção desse modelo
estruturante.
Com o olhar voltado para o processo de reconstrução de conceitos
durante as aulas de Matemática concebi um construto teórico denominado
Unidade Articulável de Reconstrução Conceitual (UARC) consolidado a
partir de uma série de categorias de Intervenções Estruturantes criadas,
especificamente, para esse fim.
A ideia é propor um modelo que possa servir de referência para a
produção de sequências didáticas com o objetivo de ensinar conteúdos
curriculares da disciplina Matemática nos níveis Médio e Fundamental. Hoje
acredito, após tantos anos de labor dentro de uma sala de aula, sobretudo
ao lidar com a aprendizagem de alunos do ensino médio e fundamental,
que o modelo de ensino que possibilita a reconstrução das ideias
matemáticas por trás dos algoritmos “desalmados” na maioria das vezes,
tem um efeito mais significativo e duradouro nas funções psicológicas
superiores dos alunos.
Nessa perspectiva é preciso que o professor seja incansável na
promoção de um discurso dialógico que possibilite aos alunos a
reconstrução de conceitos, a identificação de propriedades, a percepção de
regularidades e o estabelecimento de generalizações, ainda que numa
dimensão intuitiva. Cabe ao professor em minha concepção a árdua tarefa
de propor aos alunos um ensino bem articulado que valorize, sobretudo, a
reconstrução de conceitos num ambiente de reflexão".
"A ideia de conceber a UARC – Unidade Articulável de Reconstrução
Conceitual – surgiu a partir das atividades desenvolvidas pelo Laboratório
de Educação Matemática da Universidade da Amazônia (LEMA-UNAMA) em
ação integrada com a disciplina de Estágio Supervisionado III no curso de
Licenciatura em Matemática. A ideia desenvolvida ali envolvia os futuros
professores numa modalidade de produção textual que procurava, a partir
de uma situação problemática, reconstruir um ou mais conceitos
matemáticos em nível do ensino Fundamental e Médio.
Esse gênero textual na verdade trata-se de uma SD. Estou usando
esse termo polissêmico no livro como sendo um conjunto articulado de
dispositivos comunicacionais de natureza escrita ou oral que sistematiza as
intervenções de ensino com a intencionalidade objetiva de estimular a
aprendizagem de algum conteúdo disciplinar de Matemática a partir da
percepção de regularidades e do estabelecimento de generalizações
adotando-se uma dinâmica de interações empírico-intuitivas".
"A
árdua tarefa de associar conteúdos curriculares às metodologias mais
adequadas ao ensino não é definitivamente uma tarefa fácil. A formação
inicial certamente não é capaz de dar conta de tão grande desafio, mas
acredito que tenha um papel muito importante nesse processo de
apropriação de saberes que se constitui, na verdade, ao longo de toda uma
vida profissional".
Fonte: Cabral, Natanael Freitas. Sequências Didáticas, Estrutura e Elaboração. Belém/Pará 2017.
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