EDUCAÇÃO
Competências e
Habilidades: você sabe lidar com isso?
Dra. Lenise Aparecida
Martins Garcia
Profª. do Dept°. de
Biologia Celular da Universidade de Brasilia
Mas o que são, afinal,
competências e habilidades?
Como muito bem coloca
Perrenoud (1999), não existe uma noção clara e partilhada das competências.
Mais do que definir, convém conceituar por diferentes ângulos.
Poderíamos dizer que uma competência permite mobilizar conhecimentos
a fim de se enfrentar uma determinada situação. Destacamos aqui o termo mobilizar. A competência não é o
uso estático de regrinhas aprendidas, mas uma capacidade de lançar mão dos mais variados recursos, de forma criativa
e inovadora, no momento e do modo necessário.
A competência abarca,
portanto, um conjunto de coisas. Perrenoud
fala de esquemas, em um sentido muito próprio. Seguindo a concepção
piagetiana, o esquema é uma estrutura
invariante de uma operação ou de uma ação. Não está, entretanto, condenado a
uma repetição idêntica, mas pode sofrer acomodações, dependendo da situação.
Vejamos um exemplo:
Quando uma pessoa começa
a aprender a dirigir, parece-lhe quase impossível controlar tudo ao mesmo
tempo: o acelerador, a direção, o câmbio e a embreagem, o carro da frente, a
guia, os espelhos (meu Deus, 3 espelhos!! Mas eu não tenho que olhar para a
frente??). Depois de algum tempo, tudo isso lhe sai tão naturalmente que ainda
é capaz de falar com o passageiro ao lado, tomar conta do filho no banco
traseiro e, infringindo as regras de trânsito, comer um sanduíche. Adquiriu esquemas que lhe permitiram, de
certo modo, "automatizar" as suas atividades.
Por outro lado, as
situações que se lhe apresentam no trânsito nunca são iguais. A cada momento
terá que enfrentar situações novas e algumas delas podem ser extremamente
complexas. Atuar adequadamente em algumas delas pode ser a diferença entre
morrer ou continuar vivo.
A
competência implica uma mobilização dos conhecimentos e esquemas que se possui
para desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos.
Diz Perrenoud que "uma
competência orquestra um conjunto de esquemas. Envolve diversos esquemas de
percepção, pensamento, avaliação e ação".
Pensemos agora na nossa
realidade como professores. O que torna um professor competente?
Ter conhecimentos
teóricos sobre a disciplina que leciona? Sem dúvida, mas não é suficiente.
Saber, diante de uma pergunta inesperada de um aluno, buscar nesses
conhecimentos aqueles que possam fornecer-lhe uma resposta adequada? Também.
Conseguir na sala de aula
um clima agradável, respeitoso, descontraído, amigável, de estudo sério? Bem,
isso seria quase um milagre, uma vez que várias dessas características, todas
desejáveis, parecem quase contraditórias. Conseguir isso em um dia no qual, por
qualquer motivo, houve uma briga entre os alunos? Esse professor manifestaria
uma enorme competência no relacionamento humano.
Poderíamos listar
muitíssimas outras. Perrenoud, em outro livro (10 novas competências para
ensinar), trata de algumas delas.
O conceito de habilidade
também varia de autor para autor. Em geral, as habilidades são consideradas como algo menos amplo do que as
competências. Assim, a competência
estaria constituída por várias habilidades. Entretanto, uma habilidade não "pertence" a
determinada competência, uma vez que uma mesma habilidade pode contribuir para
competências diferentes.
Uma pessoa, por exemplo,
que tenha uma boa expressão verbal (considerando que isso seja uma habilidade)
pode se utilizar dela para ser um bom professor, um radialista, um advogado, ou
mesmo um demagogo. Em cada caso, essa habilidade estará compondo competências
diferentes.
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