Susan Furhman, diretora do Teachers College, nos EUA, fala sobre valorização docente e estratégias para apoiar o seu desenvolvimento profissional.
por Marina Lopes 16 de março de 2018
Como estimular o desenvolvimento contínuo dos professores? Quais incentivos de carreira devem ser oferecidos? Para Susan Furhman, diretora do Teachers College da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, o apoio aos educadores passa inicialmente pela compreensão dos seus desafios. “Os professores precisam saber que nós entendemos o que eles passam e apreciamos o seu trabalho. Para dar o suporte que eles precisam, temos que mostrar que eles não estão sozinhos”, sugere.
Durante visita ao Brasil, a partir da sua experiência à frente de uma das principais instituições de formação de professores dos Estados Unidos, ela conversou com um grupo de representantes do terceiro setor sobre políticas de incentivo, formação de professores e valorização da carreira docente. O encontro aconteceu nesta sexta-feira (16), na sede do movimento Todos Pela Educação, em São Paulo (SP).
Confira algumas das principais reflexões apresentadas por Susan Furhman:
Formação precisa integrar conhecimento e prática
O treinamento adequado de professores não passa apenas pelo conhecimento sobre como os alunos aprendem ou pela prática em sala de aula. De acordo com a diretora do Teachers College, as duas coisas precisam estar alinhadas. “Nós sabemos que as crianças aprendem durante conversas, elas não aprendem apenas com alguém falando para elas. Também sabemos que os relacionamentos e o desenvolvimento socioemocional são muito importantes. Imagine que uma pessoa não sabia isso há dez anos atrás. Então temos que colocar o conhecimento e a prática juntos”, sugere Susan, ao mencionar que teoria e prática devem caminhar lado a lado na formação docente.
Como estratégia para que os professores tenham experiências reais, já que as universidades não vão conseguir ensinar tudo o que eles precisam aprender para atuar na sala de aula, ela também destaca a importância da residência pedagógica, de forma parecida ao que acontece nos cursos de medicina. “Quando você olha para países que têm um alto nível na educação, eles pagam professores para aprenderem. Isso vai um pouco além do que pode acontecer nos Estados Unidos ou no Brasil porque exige um investimento muito grande, mas existe uma outra abordagem chamada residência pedagógica. No Teachers College, as pessoas estudam um assunto na graduação e depois passam mais um ano aprendendo sobre pedagogia, aprendizagem dos alunos e uso de tecnologia. Durante o dia, também trabalham como assistente de professores.”
País precisa estabelecer padrões sobre o que os professores precisam saber
Em um debate sobre o que realmente faz a diferença no ensino, a diretora do Teachers College diz que devem ser criadas normas para que os professores saibam o que é esperado deles. “O foco são os padrões sobre o que os professores devem saber desde o começo. Nos Estados Unidos não temos isso estabelecido. Cada estado tem um tipo de certificação para professores, mas nenhum é sofisticado”, cita.
De acordo com ela, devem existir algumas habilidades e conhecimentos básicos para todos os professores. “Eles devem saber liderar uma discussão, conseguir engajar os alunos em uma conversa que avance e gerenciar uma sala de aula”, exemplifica. “São coisas que os professores precisam saber, e nós temos que aceitar e avaliar isso para estabelecer um padrão em todo o país.”
Docentes devem ser apoiados na sua prática
Não adianta apenas cobrar que todos educadores adotem um padrão. “Ajudar é o melhor caminho que podemos dar aos professores. O trabalho se torna cada vez mais difícil”, destaca Susan. Ela sugere que o desejo de ver o aprendizado dos alunos, que é nutrido genuinamente por quase todos professores, seja um ponto de partida para redes ou organizações oferecerem ferramentas e formações que podem ajudar os docentes a alcançar seu objetivo. “Se você der a eles uma boa liderança, boas condições de trabalho, materiais de melhoria e acesso a tecnologia, todas essas coisas vão ajudá-los a ensinar melhor, e os professores apreciam isso.”
Políticas de bônus trazem pouco resultado efetivo
Se por um lado ela defende que sejam criadas melhores condições de trabalho, por outro, a diretora do Teachers College também traz algumas reflexões sobre incentivos por meio de bonificações. “Não tenho pensamentos positivos sobre políticas de bônus para professores. Tivemos resultados muito pequenos com todos os estudos e estratégias que usamos. O investimento é muito alto, mas o resultado final não é bom.”
Para ela, qualquer estratégia que envolve o uso de bônus deve começar com uma reforma de base muito bem estrutura. “Nos Estados Unidos, os professores pensam que recebem muito mal, e isso é evidente se compararmos com outras áreas. Mas a motivação é o essencial. O bônus não vai ajudar se a pessoa acreditar que está ganhando mal”, diz Susan. “É interessante que os bônus não funciona na educação, mas as pessoas continuam implementando isso. Elas são atraídas ao que parece fácil de se fazer. A reforma tem que ser sistêmica.”
Mais do que reformas, a educação precisa de melhorias
Quando o assunto é uma reforma educacional, Susan diz que a conversa é infinita.” A reforma é uma questão muito complicada. Significa pensar em coisas diferentes para pessoas diferentes. Eu prefiro usar a palavra melhoria, porque uma reforma pode acontecer o tempo todo, mas o que nós buscamos são melhorias”, sugere.
Ela ainda destaca que para os sistemas educacionais atingirem melhorias, eles precisam ajudar as pessoas a mudarem sua prática. “Dizer para as pessoas fazerem alguma coisa só vai funcionar se for uma mensagem simples, como você tem que andar a 55 km no trânsito.” No entanto, ela diz que um aprendizado que envolve mudança de prática profissional não é algo fácil de se enfatizar. “Não adianta dizer para uma escola que ela precisa melhorar sua pontuação em 10%, mas não oferecer suporte e recursos para que ela faça isso. Você pode até dizer que espera x, mas sem apoio não vai adiantar nada”, afirma, ao mencionar que o país precisa ajudar educadores a construir capacidade.
Política nacional para a educação precisa incluir incentivos locais
Assim como acontece no Brasil, Susan mencionou que os Estados Unidos também enfrentam o desafio de administrar o desempenho educacional dos estudantes em um complexo sistema federativo. “Nós temos esse quebra cabeça de um um sistema federal com controle local. Grande parte dos fundos vêm dos estados. Então temos o desafio de alinhar incentivos por níveis, pensando o que vai motivar determinados municípios a entrarem no jogo.”
De acordo com ela, as estratégias não vão funcionar de forma igual para todas as redes de ensino. “Nos Estados Unidos, os estados são motivados pelos valores. Se uma escola vai bem, as pessoas querem comprar casas naquele local. Precisamos entender a dinâmica que motiva os bairros a melhorar a sua performance educacional”, exemplifica. Ela ainda sugere que a tecnologia seja uma ferramenta aliada para atingir as partes mais remotas do país, oferecendo apoio para todos possam avançar e se desenvolver.
Educação deve ser vista como uma política
Na avaliação dela, o contexto político também pode tornar o sistema educacional menos funcional. “A educação é política em qualquer lugar. Dizíamos que a educação está fora da política, mas isso é ridículo. Não é assim que as coisas funcionam. Política se trata de alocar valores, e a educação é um valor essencial”, afirma.
Ao refletir sobre os desafios brasileiros, Susan também fala sobre o tempo que os alunos passam nas escolas e a jornada dupla ou tripla de trabalho que os professores enfrentam. “Os professores precisam trabalhar o dia todo em uma escola. Eles precisam planejar o currículo e fazer desenvolvimento profissional em conjunto com os seus colegas. Os alunos também precisam ficar mais tempo na escola. Temos que pensar nisso a longo prazo e criar condições fora da educação para que isso aconteça.”
Desenvolvimento profissional deve estar focado no currículo dos alunos
Na hora de estabelecer um plano de carreira para os professores, ela é convicta ao dizer que o desenvolvimento profissional deve estar focado no currículo dos alunos. “Não adianta fazer um curso desvinculado. Tem que ser tudo bem planejado para ter relevância no dia a dia deles. O desenvolvimento profissional vai ser uma parte importante da reforma.”
Terceiro setor também pode contribuir com a carreira docente
Durante o encontro, Susan também se mostrou bastante esperançosa em relação ao terceiro setor brasileiro. De acordo com ela, esse grupo também pode apoiar importantes mudanças educacionais. “Vai ser difícil encontrar recursos e assistência técnica no sistema para ajudar os professores e líderes educacionais. Eu acho que o setor sem fins lucrativos pode ajudar bastante aqui no Brasil.”
Fonte: http://porvir.org/9-reflexoes-para-valorizar-a-carreira-e-melhorar-a-formacao-de-professores/
"Achei interessante divulgar essa matéria porque diz respeito a nossa profissão e é importante termos diferentes perspectivas sobre ela. Concordar ou não com o que foi dito é direito de cada um de nós em fazê-lo." (Lúcio Mauro Carnaúba)
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