EDUCAÇÃO
Competências
e Habilidades: você sabe lidar com isso?
Dra.
Lenise Aparecida Martins Garcia
Profª. do Dept°. de
Biologia Celular da Universidade de Brasilia
Competências e habilidades no currículo
Se o conceito de competências e habilidades não
são unívocos, mais ainda varia o modo como estão sendo tratados na prática. Os
PCNs, os currículos estaduais, outros documentos (como por exemplo os do ENEM e
do SAEB) dão tratamentos diferenciados.
Um dos complicadores da situação, a meu ver, é
que há uma mistura entre competências, habilidades e conteúdos conceituais. De fato, a competência, para ter a
mobilidade que a caracteriza, não pode estar associada a nenhum conteúdo
específico. Entretanto, admito que é
muito difícil organizar um programa ou currículo sem fazer essa associação.
Vejamos um exemplo:
Os PCNs do ensino médio apresentam competências
e habilidades em conjunto, sem definir o que seria competência e o que seria
habilidade. Dada a amplitude destes termos, considero o tratamento correto. São
apresentadas de um modo bastante genérico, caracterizando a mobilidade. Algumas
delas, do documento de Ciências Naturais e suas Tecnologias:
- Desenvolver a capacidade de
questionar processos naturais e tecnológicos, identificando regularidades,
apresentando interpretações e prevendo evoluções.
- Utilizar instrumentos de medição e de
cálculo. Procurar e sistematizar informações relevantes para a compreensão
da situação-problema. Formular hipóteses e prever resultados.
- Reconhecer o sentido histórico da
ciência e da tecnologia, percebendo seu papel na vida humana em diferentes
épocas e na capacidade humana de transformar o meio.
- Entender o impacto das tecnologias
associadas às ciências naturais, na sua vida pessoal, nos processos de
produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social
Entretanto, para desenvolver essas competências
será necessário que elas sejam trabalhadas em conexão com algum(ns) conteúdo(s)
conceitual(is). Os currículos estaduais estão em geral refletindo essa
associação. Vejamos alguns tópicos (classificados como competências) do
currículo do distrito federal:
- Identificar a célula como unidade
responsável pela formação de todos os seres vivos, não existindo vida fora
dela.
- Explicar os processos de transmissão
das características hereditárias e compreender as manifestações físicas e
socioculturais delas.
- Compreender que as espécies sofrem
transformações ao longo do tempo, gerando a diversidade, segundo seleções,
adaptações e extinções.
Como podemos perceber, ao fazer-se a combinação
competência / conteúdo conceitual perdeu-se a mobilidade. Entretanto, isso não
quer dizer que não se possam desenvolver, por esse caminho, competências
móveis. Por exemplo, aqui se fala das manifestações físicas e socioculturais
ligadas à transmissão das características hereditárias. Se forem trabalhadas
também manifestações socioculturais em outros aspectos da ciência, ao longo do
currículo, a competência de detectá-las e compreendê-las em diferentes
situações estará sendo construída.
Penso que
ainda temos muito o que aprender quanto aos modos de expressar e principalmente
de desenvolver competências e habilidades como objetivos de ensino e
aprendizagem. Certamente, terá que ser uma construção coletiva.
É também Perrenoud
quem diz que "construir uma competência significa aprender a identificar e
a encontrar os conhecimentos pertinentes". Por isso, "se estiverem já
presentes, organizados e designados pelo contexto, fica escamoteada essa parte
essencial da transferência e da mobilização".
Do ponto
de vista prático, isso significa que é necessário que os alunos descubram os
seus próprios caminhos. Quanto mais "pronto" é o conhecimento que
lhes chega, menos estarão desenvolvendo a própria capacidade de buscar esses
conhecimentos, de "aprender a aprender", como tanto se preconiza hoje.
Levada ao extremo, essa concepção tornaria
desnecessária - e mesmo prejudicial - a atuação do professor. Entretanto, não é
essa a interpretação que damos. O
professor tem que reconhecer, isso sim, que o ensino não pode mais centrar-se
na transmissão de conteúdos conceituais. Ele passa a ser um facilitador do
desenvolvimento, pelos alunos, de habilidades e competências.
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