EDUCAÇÃO
Competências
e Habilidades: você sabe lidar com isso?
Dra.
Lenise Aparecida Martins Garcia
Profª. do Dept°. de
Biologia Celular da Universidade de Brasilia
Competências e habilidades na sala de aula
A pergunta surge espontânea: o que o professor
precisa fazer, então, para assumir esse novo papel?
Eu diria
que um dos aspectos básicos é saber dosar o preparo e a programação das aulas
com a improvisação. Talvez alguns fiquem chocados com esta colocação. Afinal,
insistiu-se tanto na importância das metodologias de ensino, em aulas muito bem
planejadas e pré-programadas, lançando mão dos mais diversos recursos
pedagógicos... Mas o fato é que uma aula muito bem programada não dá espaço ao
aluno.
É importante que um professor saiba como vai
iniciar a sua aula, que recursos deverá ter disponíveis, os objetivos que
pretende atingir. Entretanto, se cada
passo da aula estiver previamente delineado ele tenderá a "escapar"
dos questionamentos dos alunos, a inibir a sua participação (uma vez que isso
sempre atrapalha o caminho previamente traçado), a seguir linhas de raciocínio
que talvez sejam as suas, mas não as dos seus alunos.
Temos que evitar, entretanto, cair no polo
oposto: que as aulas aconteçam sem um objetivo concreto, como um barco que
ficasse ao sabor do vento que soprar mais forte, sem um porto de destino.
Um modo de chegar ao porto de destino, fazendo a
rota que seja mais conveniente em cada situação (como faz um barco; existe um
traçado original, do qual, entretanto ele muitas vezes se desvia por
circunstâncias do caminho), é trabalhar sobre projetos ou problemas concretos. As competências e habilidades,
desenvolvidas nesse contexto, já devem ir surgindo ou se aperfeiçoando com a
necessária mobilidade. Os conteúdos conceituais serão também aprofundados à
medida em que se fazem úteis ou necessários.
Evidentemente, para que se trabalhe adequadamente desta forma o primeiro a necessitar
de competências com grande mobilidade e capacidade da transferência de
conhecimentos para atender a situações concretas é o professor.
Infelizmente, como é frequente que um professor de biologia seja capaz de reconhecer
as organelas celulares desenhadas em seu livro, mas não em uma microscopia
eletrônica... Ou "dar" aos alunos toda uma tabela de classificação de
insetos, inclusive com nome científico, e ser incapaz de classificar um que o
seu aluno trouxe do jardim...
Há professores
que temem (e evitam) as aulas de laboratório pelo receio de que os experimentos
"deem errado". Não têm consciência de que todos os experimentos dão
certo, ou seja, o seu resultado reflete o que aconteceu nos diferentes passos
experimentais. Um experimento que não dá o resultado previsto muitas vezes é
didaticamente mais útil, uma vez que terão que ser formuladas e analisadas
hipóteses que não haviam sido antecipadas. É a mobilidade da competência sendo
acionada. Flemming não teria descoberto a penicilina se uma de suas placas não
tivesse sido acidentalmente contaminada. Mas também não a teria descoberto se
tivesse descartado essa placa "que deu errado".
Outro
aspecto necessário para o desenvolvimento de competências - que são gerais, e
não setorizadas - é a ruptura das barreiras que se criaram entre as diferentes
disciplinas. É verdade que cada disciplina tem as suas particularidades, uma
metodologia própria, uma abordagem epistemológica que lhe é característica.
Entretanto, é também verdade que nenhum fenômeno complexo envolve uma única
disciplina para a sua resolução.
É
necessário que cada professor se sinta responsável pela formação global de seu
aluno e não por um único aspecto, informativo e relacionado à sua área
específica de atuação.
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