Os temas nacionais investigados ainda se encontram pouco explorados e priorizam registros descritivos do ambiente escolar. Por este motivo os trabalhos de pesquisa realizados pelos norte-americanos e franceses, têm a acrescentar e estimular o debate brasileiro, apesar de não focarem nossa realidade.
“do ponto de vista histórico, o problema da violência escolar não é recente, mas o que pode ser considerado novo são as formas pelas quais essa violência se manifesta, divididas pelo autor em quatro grandes aspectos: o surgimento de formas de violência mais graves, apesar de bastante raras; a idade cada vez menor dos alunos envolvidos em casos de violência que, nesse caso, entra em conflito com o ideal de infância como período de inocência; a ação de agentes externos que ocupam o espaço da escola com agressões geradas fora dela; a repetição e o acúmulo de pequenos casos que não são necessariamente violentos, mas que criam a sensação de ameaça permanente”. (Charlot, 2002)
- Demonstrar que a violência que acontece não é casual, é socialmente construída e, por isso mesmo, pode ser previsível.
- Conhecendo a sua origem é possível elaborar estratégias de ação que impeçam que ela continue e se desenvolva.
"Apresenta três tipos distintos: a violência na escola, quando ela é o local de violências que têm origem externa a ela;
casos de violência direta contra a instituição e
aquela entendida como a violência onde as vítimas são os próprios alunos”. (Charlot, 2002)
A violência não tem um significado único, mas varia de acordo com o contexto em que ocorre e conforme os atores envolvidos.
“Há trabalhos brasileiros e estrangeiros que apresentam um rol de fenômenos que são associados com o intuito de produzir uma explicação para a manifestação da violência nas escolas, nas suas diversas formas”. “Tais variáveis, externas e internas, envolvem tanto atributos individuais quanto institucionais e ambientais”. (Abramoway, 2002)
Causas internas: idade e nível de escolaridade dos alunos; regras, disciplina e o sistema de punições das escolas, a indiferença dos professores frente a todos os casos de violência, a má qualidade do ensino, carência de recursos humanos e a relação de autoridade entre professores e alunos.
O sistema de educação norte-americano tem voltado sua atenção para o problema da violência escolar desde 1950, sendo que, em 1974, o Congresso realizou um levantamento sobre a violência escolar que resultou em um relatório sobre a situação das escolas. A grande maioria dos programas e pesquisas realizados enfatiza a questão do assédio moral, também denominado bullying.
Na França dá-se maior ênfase aos programas voltados para o problemas das incivilidades. O monitoramento do bullying teve início a partir das pesquisas de vitimização, que compreendem pesquisas longitudinais que trabalham o conceito de violência como parte de um contínuo desenvolvimento. (Flannery, 1997)
“Violência, uso da força ou da ameaça na prática de delitos (casos de lesão, extorsão, etc.);
Transgressão, compreende os comportamentos contrários às regras estabelecidas pela escola (absenteísmo, não participação em atividades, etc.);
Incivilidade, engloba casos que não contrariam nem lei nem as regras internas necessariamente, mas que prejudicam a boa convivência no ambiente escolar por representarem falta de respeito aos alunos, professores e funcionários (grosserias, desordens, etc.)”. (Charlot, 2002)
Na prática, pode-se dizer que apesar dos franceses e norte-americanos adotarem definições diferentes, incivilidade e bullying estão se referindo a um mesmo fenômeno. Ambos tratam da violência explícita ou implícita que ocorre na escola e que, continuamente, impede a construção de relações de confiança e companheirismo, favorecendo o sentimento de medo e exclusão no ambiente escolar.
O tema entra em voga no debate público no Brasil, no início da década de 1980.
“Para Aquino (1998), o combate à violência nas escolas passa, sobretudo, pela reformulação das relações internas. Isso porque a escola não é apenas vítima da violência do contexto externo, mas a violência que se manifesta no seu espaço tem aspectos próprios da instituição escolar e é produzida no seu interior”.
- Vertentes da Violência presentes no cotidiano escolar:
- “sociologizante”, onde a violência teria raízes externas às práticas escolares, como os contextos político, econômico e cultural
- “psicologizante”, em que os eventos conflituosos estariam relacionados à estruturação psíquica dos agentes envolvidos em eventos conflituosos.
Observa-se que as causas dos problemas internos não são atribuídas às práticas institucionais realizadas pela escola, mas a questões anteriores e/ou externas a ela.
Restam o sentimento de impotência dos educadores diante das situações difíceis que ocorrem na escola e as práticas de encaminhamento dos problemas.
“Para se pensar em ações práticas à questão da violência, é necessário situá-la nas relações institucionais da escola e não em seus atores, de forma individualizada”. (Aquino, 1998)
“Frequentemente, argumenta-se que uma das causas da crise da educação e do fracasso escolar são os problemas de indisciplina. Novamente são justificativas que não levam em consideração a sala de aula, a relação professor-aluno e questões estritamente pedagógicas e que, consequentemente, não têm fundamento justamente por tomarem a disciplina como um pré-requisito para a ação pedagógica e não como resultado do trabalho desenvolvido em sala de aula”. (Aquino, 1998)
“Hoje, o respeito ao professor não mais pode advir do medo da punição – assim como nos quartéis – mas da autoridade inerente ao papel do “profissional” docente. Trata-se, assim, de uma transformação histórica radical do lugar social das práticas escolares. Ou seja, é necessário que exista o respeito, como resultado de uma admiração fundada na assimetria e na diferença”. (Aquino, 1998)
Passado algum tempo, inicia-se a segunda etapa: o professor passa a ensinar o que sabe. É uma fase extremamente perigosa, em que se corre o risco da estagnação. Como ensina o que sabe, o professor se afasta do que não sabe, e aí mora o perigo: quem não mais aprende coisas novas perde a capacidade em entender as dificuldades de quem as aprende, esvaindo-se a capacidade de ensinar.
A maturidade profissional conduz o professor à terceira fase, em que ele é capaz de concentra-se nos alunos, e de ensinar aquilo que considera que eles precisam aprender. Se sua turma necessita conhecer determinados conteúdos que ele não domina bem, ele os estuda e conduz os alunos ao aprendizado dos mesmos. Afinal, ensinar é doar-se”. (Nilson José Machado)
Competência é a “capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiando-se em conhecimentos, mas sem se limitar a eles”. (Perrenould, 2000)
Panela de Pressão
“Na sala dos professores, o ambiente tenso. Maria sabe que Lúcia vive falando dela pelas costas. “Ela dá muita liberdade aos estudantes, e depois ninguém consegue segurar a turma!”. Lúcia, por sua vez, ficou sabendo pelo colega Pedro que a opinião de Maria sobre ela também não é nada boa: “Detesto quem grita e humilha os alunos”.
A diretora entra, e todo mundo fecha a cara. Estão furiosos com ela, que decidiu – sem consultar ninguém – inscrever a escola em um novo projeto que a Secretaria da Educação ofereceu e que representa, no entender dos docentes, “apenas trabalho a mais”. No entanto, não se fala abertamente sobre esse descontentamento. A diretora não conversou com a equipe porque pressupôs que todos deveriam se interessar pelo projeto. Com receio de ficar malvista pela supervisora, ela também não contou que estava se afogando em dezenas de formulários a serem preenchidos “para ontem”.
Ouvem-se palavrões vindos do pátio, onde as sétimas séries estão em aula vaga há duas horas. Um estudante aparece na porta: “professora Lúcia! Alguém riscou seu carro!”.
(Livro: Conflitos na Escola: Modos de transformar)
O que você pensa disso?
É possível evitar as manifestações violentas dos conflitos?
“O conflito é o nosso companheiro de jornada mais próximo. É parte integrante da vida e da atividade social. O conflito se origina da diferença de interesses, de desejos e aspirações. Percebe-se que não existe aqui a noção estrita de erro e de acerto, mas de posições que são defendidas frente as outras, diferentes”. (Chrispino e Chrispino, 2002, pp. 30-31)
“Conflito é um processo que começa quando um indivíduo ou um grupo sente que os atos ou as intenções de outro indivíduo ou grupo podem prejudicar seus próprios interesses, convicções, normas, valores”. (de Dreu, 2007)
“Conflito é uma parte normal da vida organizacional, já que as pessoas têm ideias diferentes sobre a utilização dos poucos recursos disponíveis – tempo, pessoal, dinheiro, e assim por diante. Não é bom ou mau em si mesmo: o que é bom ou mau é o impacto que terá na organização”. (Owens, 2004, p.328)
“Conflito é uma situação em que pessoas interdependentes satisfazem suas necessidades e seus interesses de formas diferentes e experimentam a interferência uns dos outros na busca de seus objetivos. Ele se origina da competição por recursos percebidos como limitados: água, ar, terra, alimento, tempo, riqueza, poder”. (Garston e Wellman, 1999, p.185)
Pense por um instante... Que pensamentos e emoções lhe ocorrem quando você lê a palavra conflito?
Onde existe diversidade, movimento e diálogo, existe conflito.
Conflitos, em si, são neutros; suas manifestações construtivas ou destrutivas dependem da forma como lidamos com eles.
Dialogar é transformar conflitos em aprendizagem e mudança.
“A pedagogia pertinente estimularia e incorporaria a ação, o diálogo, o compromisso, a cooperação e a participação, tomando o conflito como um dos principais objetos de estudo, propiciando ferramentas para resolvê-lo adequadamente, o que seria o caminho para conseguir a paz”. (Ghanen, 2004, p.92)
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