Pesquisa investiga práticas e comportamentos docentes considerados exemplares no ensino da disciplina. Saiba quais são
Apresentar as expectativas, dar tempo para que os alunos pensem e exponham suas ideias, propor desafios e atender prontamente a turma. Estas são algumas das atitudes que dão certo na hora de ensinar Matemática, segundo o estudo "Boas Práticas Docentes no Ensino da Matemática" realizado pela Fundação Victor Civita em parceria com a Fundação Cesgranrio e com apoio do Banco Itaú BBA e do Instituto Unibanco.
A pesquisa identificou como trabalham os 63 docentes com melhor desempenho no Processo de Promoção por Merecimento da rede estadual paulista. Eles também obtiveram notas altas em pelo menos duas edições do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolas do Estado de São Paulo (Saresp). As aulas foram filmadas e avaliadas por mestrandos e doutorandos em Matemática e avaliadas por cinco especialistas na área, que usaram os mesmos critérios para definir as ações mais interessantes do ponto de vista didático.
A educadora Priscila Monteiro, consultora pedagógica da Fundação Victor Civita, destaca que estas não são as únicas características de um bom professor de matemática. "A pesquisa mostra que algumas práticas recomendadas pela literatura internacional da área estão presentes nas salas de aula da rede pública". Abaixo e nas páginas seguintes, veja o que fazem os professores avaliados para ensinar Matemática e aproveite a experiência deles para analisar seu trabalho e buscar formação:
1. Domine os conteúdos da disciplina
Saber apenas o que será apresentado na aula não basta, para ensinar bem é preciso conhecer o conteúdo da disciplina de forma mais aprofundada. Para alcançar este patamar o docente deve buscar formação constante. É o que fez Daniela Mazoco, que dá aulas na EE Rubens Ferreira Martins e na EMEF Professor Athayr da Silva Rosa, em Urupês, s 470 kilômetros de São Paulo. Para se aperfeiçoar, lê muito, pede orientações a colegas mais experientes e já fez vários cursos oferecidos pela rede, inclusive um mestrado. "Até o docente que sabe bem a matéria deve ficar atento à evolução dos saberes didáticos e de sua área. Definições e certezas mudam com o tempo", conta.
2. Seja claro ao expor o conteúdo
Na hora de apresentar os problemas e sistematizar o conteúdo, o professor precisa ser claro e saber se comunicar com a turma. Usar um tom de voz tranquilo, manter contato visual, não falar por muito tempo e evitar escrever muito no quadro são as estratégias utilizadas pelo professor Paulo Rogério Alves, da EE Paulo de Abreu e da EMEF Profesor Sidney Santucci, em Itapevi, na Grande São Paulo. É importante também ouvir as ideias que os alunos apresentam, ajudá-los a expressá-las e conferir se a turma realmente compreendeu o conteúdo.
3. Planeje suas aulas
É fundamental estruturar a aula, definir conteúdos e expectativas de aprendizagem e apresentá-los à classe. Assim, o professor pode prever quais conhecimentos e estratégias os alunos podem abrir mão para resolver o que foi proposto e poderá, quando necessário, replanejar suas aulas. Como fez o professor Caibar Soares Vital, da EE Professor Ital de Mattos, em Santa Fé do Sul, a 642 quilômetros de São Paulo. Conversando com a turma notou que muitos não sabiam um conteúdo de anos anteriores. Resolveu, então, dedicar um tempo à revisão do tema. Além disso, faz diagnósticos contínuos para verificar o andamento da turma e finaliza cada etapa com uma avaliação rápida, à base de perguntas orais.
4. Contextualize o conteúdo
Alguns conceitos matemáticos podem se relacionar ao cotidiano, outros não. O fundamental é saber que a Matemática é uma maneira de pensar e construir um raciocínio. É o que faz Elcie Sanches Eleer, professora da EE Coronel João Gomes Martins, em Martinopólis, a 539 quilômetros de São Paulo, que trabalhou probabilidades a partir de um volante da Mega Sena. Ela propôs que os alunos fizessem as contas para descobrir qual a chance de ganhar o prêmio. Quando o conteúdo não está tão relacionado ao dia a dia, ela busca conexões com conceitos já estudados. "Saber de que forma uma coisa leva à outra ajuda a dar sentido ao novo conteúdo", explica.
5. Respeite o tempo de aprendizagem de cada um
A aula deve proporcionar a participação e o avanço de todos. Por isso, a turma inteira deve ser envolvida, inclusive os mais tímidos e que participam menos da aula. O tempo de cada aluno também deve ser respeitado. Cada um deve ter o momento para pensar, ensaiar, errar e comparar suas conclusões com a dos colegas. Roque Alfredo Moraes, que dá aulas na EE Paulo Virgínio, em Cunha, a 225 quilômetros de São Paulo. separa um momento da aula para o aluno pensar no problema e outro para compartilhar o que achou com os colegas. Enquanto isso, lança mais questões para estimular o debate entre os alunos.
6. Use os erros dos alunos a favor da aprendizagem
Ouça o aluno e procure entender a lógica que utilizou para chegar à resposta, antes de falar qual é a correta. Dê a ele a chance de chegar por conta própria ao resultado. Apresente contraexemplos e permita que o aluno formule hipóteses e teste a validade de cada uma delas, como faz Robson Alves de Oliveira, professor da EE Professora Dinah Lúcia Balestrero e da EM Álvaro Callado, em Brotas, a 235 quilômetros da capital paulista. "Vejo que muitos ficam retraídos por acharem que não sabem e, com medo de errar, perdem o interesse em participar das atividades", afirma.
7. Promova o uso de estimativas
É comum que os alunos tenham dificuldade para estimar grandezas. A turma precisa aprender que a Matemática não é feita apenas de resultados precisos, mas também de aproximações, raciocínios e elaboração de argumentos. Proponha situações de uso de estimativa e peça que os alunos explicitem em quais conhecimentos se apoiaram para calcular. É importante que os estudantes compreendam que estimativa não é chute, mas se baseia em referências, como fez o professor Valter Mandolini, da EE Aparecido Gonçalves Lemos, em Canitar, a 368 quilômetros da capital paulista, que pediu aos alunos que calculassem o orçamento para a reforma da quadra da escola, com base em uma estimativa da quantidade de material que seria utilizada na obra.
8. Use recursos visuais e tecnológicos
Alguns conteúdos da disciplina são bastante visuais, e recursos como material multimídia, vídeos e programas de apresentação ajudam na resolução de problemas e na compreensão. Saber fazer um bom uso do quadro e mesclar este recurso com tecnologia é o que faz Valéria Nogueira, professora da EE Coronel Pedro Dias de Campos, em Capela do Alto, a 203 quilômetros de São Paulo. Após conhecer em um curso o software Movimentos Complexos, desenvolvido pela Universidade de Campinas (Unicamp), utilizou em sala para apresentar números complexos e se surpreendeu com a adesão dos alunos. "O mais apático dos meus alunos foi o primeiro a terminar todas as fases do jogo", conta.
9. Relacione procedimentos matemáticos
O que os alunos já sabem deve ser usado para construir um novo conhecimento. Proponha situações em que os estudantes deverão analisar se o procedimento escolhido é o correto. Assim, eles relacionam diferentes procedimentos matemáticos, algo que o professor Roberto Martins Mendes sempre faz com seus alunos da EE Pedro Raphael da Rocha, em Santa Gertrudes, a 167 quilômetros de São Paulo: "Não entendo como um assunto pode ser visto de uma maneira descontinuada. Procuro estabelecer relações com os conteúdos matemáticos já trabalhados e, principalmente, abordar as aplicações deles", diz.
10. Interaja com a turma
Ouvir os estudantes e considerar seus conhecimentos ao planejar o ensino é um dos comportamentos docentes que tem efeitos positivos na sala de aula. Também é fato que as expectativas positivas do professor em relação a cada aluno, acreditando que ele pode ter um bom desempenho, aumentam a aprendizagem. Ricardo Pessoa dos Santos, da EE Carolina Lopes de Almeida e da EE Professora Sueli Aparecida Sé Rosa, em Bauru, a 326 quilômetros de São Paulo, procura se aproximar dos alunos, ouvir suas dúvidas e acompanhar as estratégias que usam para resolver as questões.
11. Promova a interação entre os alunos
O intercâmbio de ideias entre os alunos favorece a troca e a negociação e estimula o uso da argumentação. Trabalhar em grupos com um próposito claro facilita a compreensão do problema e a reelaboração do pensamento a partir do olhar do outro. É o que faz a professora Inês Regina da Silva, da EE Hely Lopes Meireles, em Ribeirão Preto, a 313 quilômetros de São Paulo, ao promover discussões em grupo e propor trabalhos em duplas de alunos com conhecimentos diferentes. "Quando constrói uma argumentação e defende seu raciocínio em uma atividade perante um colega ou a classe, o aluno aprende muito".
12. Dê lição de casa e não esqueça a correção!
A lição de casa é um importante instrumento para que o professor ensine a turma a estudar. É neste momento que o aluno estuda sozinho, pensa estratégias e decide qual lhe parece mais válida sem o apoio do docente ou dos colegas. De volta à sala, é fundamental dar um retorno deste trabalho e o professor pode fazer isso corrigindo a tarefa de cada um, deixando recados ou selecionando a resolução de alguns alunos para um debate coletivo, que terá como tema aquilo que deseja aprofundar. É o que faz Eliane Alves do Vale Oliveira, da EE Pio X, em São José do Rio Preto, a 443 quilômetros da capital paulista. Ela trata da tarefa logo na aula seguinte, confere os cadernos, faz a correção coletiva e escolhe alguns alunos para contar suas estratégias de resolução de problemas.
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