Original em Inglês no link abaixo:
http://www.plosone.org/article/info:doi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0009881
http://www.plosone.org/article/info:doi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0009881
Research Article
A Mathematical Model of Sentimental Dynamics Accounting for Marital Dissolution
A fórmula do amor: teoria matemática explica por que os casais se separam
O pesquisador José-Manuel Rey, do Departamento de Análises Econômicas da Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, criou uma teoria matemática para explicar por que tantos casamentos, que eram para durar para sempre, acabam em separação e divórcio. O estudo foi publicado no Plos One Journal Infomartion, jornal científico de publicações online de pesquisas, em 31 de março de 2010, e tenta encontrar uma explicação científica para as altas taxas de divórcios constantemente noticiadas nas mídias dos Estados Unidos e Europa. De acordo com a pesquisa, o número de divórcios já é considerado uma epidemia nos EUA, onde um em cada dois casamentos é desfeito. O mesmo acontece na Europa, onde as taxas de divórcios não são muito inferiores e em alguns países chegam a números muito elevados.
Segundo o pesquisador, as relações sentimentais, de natureza romântica, são consideradas um componente fundamental para uma vida equilibrada e feliz, principalmente nas sociedades ocidentais. Quando as pessoas são questionadas sobre o que elas acreditam ser necessário para a felicidade, a resposta sempre está relacionada ao amor, baseado numa relação matrimonial estreita. Mas, então, por que muitos casais se separam? Rey afirma, de acordo com a pesquisa, que a fase inicial dos relacionamentos românticos é controlada pelos processos químicos, e que o propósito de manter um relacionamento sentimental em longo prazo, como o casamento, pertence ao reino das decisões racionais.
Contudo, segundo o pesquisador, os casais geralmente afirmam a sua intenção de fazer seus relacionamentos durarem e serem felizes juntos, mas, na prática, não é isso o que acontece. Para Rey, existe um consenso entre estudiosos de diferentes áreas em atribuir o aumento da instabilidade conjugal, no início do século XX, principalmente em função das forças econômicas desencadeadas pela mudança sexual na divisão do trabalho, ou seja, o aumento significativo das mulheres no mercado de trabalho. Mas, para o pesquisador da universidade de Madrid essa mudança não explica a contínua e generalizada ruptura conjugal observada nas últimas décadas nos EUA e Europa. De acordo com a pesquisa, se isso fosse o real motivo para tantos divórcios, como explicar os casais que ainda permanecem juntos?
Para Rey, o fato é que a maioria dos casais se compromete a colaborar para que seus relacionamentos sejam duradouros, mas as altas taxas de divórcios representam uma contradição. E só a teoria matemática pode oferecer uma explicação consistente para o fracasso dos casamentos. A pesquisa de Rey, com base em dados sociológicos, propõe um modelo matemático, baseado na teoria do controle ótimo – que estuda a obtenção de soluções ótimas de sistemas que evoluem com o tempo e são suscetíveis a decisões externar -, para que o casal faça um planejamento racional de um relacionamento em longo prazo. Segundo o modelo matemático, a relação sentimental é considerada como um problema de controle ótimo, onde no início (tempo t = 0) os sentimentos dos parceiros estão em seu nível máximo, e eles se comprometem a fazer o que for necessário para assegurar um futuro longo em conjunto, por meio do casamento.
O problema é que, segundo o pesquisador, no estado inicial, o nível de sentimento de ambos os parceiros não está em equilíbrio exatamente porque o sentimento inicial de um para o outro é normalmente maior do que na fase do equilíbrio. E após o casamento, com o passar do tempo, o sentimento inicial de ambos os parceiros tende a desaparecer, podendo culminar com o divórcio. Somado a isso, as perturbações e os momentos de instabilidade da relação podem aumentar com o passar do tempo. Deste modo, a teoria matemática de Rey revela que duas forças trabalham em conjunto para facilitar o surgimento do processo de deterioração das relações sentimentais inicialmente previstas para durarem para sempre: os níveis de sentimento e o esforço variável dos parceiros para manter uma relação satisfatória e duradoura.
Portanto, se as perturbações e instabilidades aumentam e o relacionamento está seguindo uma trajetória decadente, é preciso aumentar o nível de esforço para restaurar a relação. A intensidade do esforço variável pode ser decidida pelos parceiros porque a natureza racional dele faz parte de uma variável de controle no cenário da teoria do controle ótimo. O casal precisa estar alerta para corrigir as perturbações e fazer o esforço necessário para recuperar o equilíbrio da relação. O pesquisador alerta que uma sequência de desatenções em relação ao esforço para manter o nível de sentimento num estágio satisfatório para ambas as partes é o início de uma pré-ruptura. Quanto mais tempo os parceiros levarem para reagir e corrigir os desvios, mais difícil será restaurar o sistema (a relação). Portanto, se o esforço for negligenciado por muito tempo, pode se tornar irreversível. E sem intervenção, o destino final das relações perturbadas é o desmantelamento do casamento.
Segundo Rey, uma quantidade considerável de casamentos infelizes relatou se encaixar no seguinte diagnóstico: a fase em que o apego emocional desaparece gradualmente corresponde à descrição da maioria dos divórcios. A questão, então, para o casal é como conceber uma política de esforço que garanta que o casamento vai durar e gerar satisfação para ambas as partes. De acordo com a pesquisa, isso pode ser alcançado pela segunda lei da termodinâmica: quando uma parte de um sistema fechado (parceiro) interage com outra parte, a energia (amor) tende a dividir-se por igual, até que o sistema alcance um equilíbrio térmico. Para o autor da pesquisa, o mesmo princípio vale para o casamento, isto é, é preciso encontrar um nível ótimo de sentimento e esforço variável entre os parceiros para garantir um relacionamento longo e satisfatório.
Em termos práticos, o autor do estudo afirma que o esforço variável é qualquer prática da vida cotidiana que serve como um reforço para o relacionamento conjugal. Os terapeutas, por exemplo, sugerem as seguintes ações construtivas: fazer perguntas, escutar ativamente, fazer planos em conjunto, além de atitudes tolerantes: aceitar as deficiências dos parceiros, respeitar a privacidade do outro e respeitar as diferenças de gostos e hábitos. Rey revela ainda que a forma típica do esforço é o sacrifício, os parceiros precisam se esquecer de um auto-interesse em prol de uma relação estreita e feliz! O pesquisador também acredita que essa compreensão é de suma importância, uma vez que a mudança social induzida pela ruptura conjugal afeta profundamente a estrutura social das sociedades contemporâneas, bem como o bem-estar de seus membros. Será que encontramos a fórmula do amor?
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